domingo, 21 de setembro de 2014

O senhor do poder e o Ifá



Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Constantemente sou procurado por pessoas para consultar com inúmeros problemas, quase todos tem historias muito parecidas e a grande maioria busca desesperadamente a fórmula mágica para ser feliz.

Muitos desses clientes querem a todo custo saber qual orisá deve ser agradado para que eles possam encontrar um caminho mais fácil para a felicidade.

Se você agradar Ogun muitos dos obstáculos desapareceram, cultuando Osun as dificuldades antes encontradas na busca pelo prestigio podem desaparecer.

Cultuando Obaluaye os problemas de saúde podem ser resolvidos, assim como cultuando Egbe Orun muitos dos problemas financeiros terminaram.

As dificuldades podem diminuir quando o culto ao Orisá esta em harmonia, mas interiormente os conflitos devem ser resolvidos. Eu costumo dizer que você é o senhor do poder e que só você pode de fato mudar a sua vida.

Os ritos devem ser ministrados por pessoas com um comportamento exemplar, mas o comportamento das pessoas submetidas aos rituais deve ser munido de boas intenções, pelo menos a tentativa  deve estar implícita para que a mudança aconteça.

Se você trai, rouba e iludi as outras pessoas, porque fazer outro tipo de ebó que não seja o indicado para a melhora de seu caráter?
A traição prejudica quem foi traído e ao mesmo tempo limita o traidor, se em um casal uma das pessoas não esta satisfeita o natural seria que houvesse um afastamento e não o adultério.

Se uma pessoa não esta feliz em seu trabalho deve pedir demissão o certo é buscar um novo emprego, não fique o tempo todo falando mal da empresa que você trabalha, não fique o tempo todo inventando defeitos para o seu chefe.

A insatisfação deveria conduzir a pessoa a uma mudança e indiretamente a um melhora, mas o comum é ver pessoas insatisfeitas, trair, iludir, exteriorizando o que existe de pior dentro delas.

A necessidade da evolução do ser humano às vezes é confundida com sentimentos negativos, a maioria das pessoas termina atacando e prejudicando o seu semelhante, como forma de alicerça o caminho para tão sonhado sucesso.

O culto ao orisá ele deveria ser ministrado com proposito didático, às orientações para o melhor viver deveriam partir da caridade a lealdade e a honestidade. No entanto o que se vê é uma procura desesperada de formas mágicas como soluções dos problemas.
O senhor do poder não pode se limitar a um caderno de receitas, uma formula certa não é a indicação de um resultado perfeito, o comportamento e o merecimento são elementos implícitos na alquimia.

O acesso a um livro de magias jamais vai tornar você um mago, ao invés de sair da cartola um coelho a sua mão pode ser picada por uma serpente.

Vejo surpresos alguns sacerdotes indicarem para os seus adeptos posturas indignas, como exemplos de comportamento inadequado.
Essa semana fiquei sabendo que um babalorisa que sugeriu para o adepto que o mesmo simulasse estar doente e procurasse um medico para obter um atestado que o afastaria do trabalho por um tempo necessário para uma iniciação no culto de orisá.

Imaginemos esse pobre coitado obter privilégios elícitos objetivando a aproximação do orisá. Em primeiro lugar ele vai trair o empregador, em segundo lugar ele vai roubar a empresa e em terceiro lugar ele vai se iludir, afirmando que essa manobra é necessária.

Será que o dinheiro proveniente de uma atividade ilícita compra materiais necessários para uma iniciação religiosa?
Será que as pessoas acreditam que o orisá aprova esse tipo de comportamento?

Será que as pessoas são tão ignorantes que acreditam que o orisá não esta vendo tudo que está acontecendo?

Mais cedo ou mais tarde, as implicações de um comportamento indigno retornaram com uma força desmedida para a vida daquele que não tem caráter.

A religião tradicional yoruba não foi criada para as pessoas perfeitas, o culto ao orisá pode auxiliar o aperfeiçoamento do individuo, mas a mudança deve ser desejada e o afastamento dos maus hábitos deve ser adotado.

A lapidação do ser é uma necessidade na busca pela felicidade e a transformação interior implica diretamente nos resultados externos.

O orisá auxilia quem quer mudar, mas o comportamento do iniciado deve nortear o processo evolutivo, com a certeza do caminho escolhido só assim os obstáculos diminuem tornando a felicidade um bem adquirido naturalmente.