domingo, 29 de março de 2015

Conversando com as crianças sobre Ifá.




Autor:Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Para mim a ideia de escrever surge das mais diversas situações, esse texto surgiu após um diálogo que tive com algumas crianças que iniciei em Ifá.

As crianças me perguntaram:

- Como é que é lá no céu?

Isso é uma pergunta muito ampla.

O papai do céu se chama Olodúnmarè e ele tem muitos secretários, um deles é conhecido pelo nome de Àjàlá, ele tem dezesseis amigos que trabalham para confeccionar as nossas cabeças, conhecidos como odus.

As crianças perguntaram então:

-É uma fábrica de cabeças?

Comecei a rir e respondi.

- Isso mesmo, é uma fábrica de cabeças com muitas prateleiras lotadas de cabeças umas diferentes das outras.

-Como assim perguntaram as crianças?

  Respondi:

- Cada um dos amigos do Àjàlá tem um nome o mais conhecido deles é Ogbe meji, cada um tem uma maneira de agir e quando ele fabrica a cabeça fica impresso nela a sua forma de ver, agir e sentir.

Um dos amigos de Àjàlá que trabalha na fábrica é Ofun meji, o mais velho de todos, que é conhecido por se vestir de branco, junto com ele e Ogbe Meji tem vários amigos de Àjàlá.

Ilustrei olhando nos olhos das crianças curiosas.

Um menino nesse momento me perguntou:

- É só esse povo que trabalha lá?

Eu respondi.

 - Não, lá trabalha Òrúnmìlà é ele que anota em um grande livro quem escolheu qual cabeça.

Òrùnmílá é um dos principais amigos de Olódùmarè e de Àjàlá, ele é o responsável por todas as informações, o departamento dele é o arquivo, ele tem muitos armários cheios de livros bem importantes.

Criançada quando consultamos Ifá, Òrùnmílá vai nos livros e procura a informação que precisamos, só ele sabe tudo, ele é a testemunha da nossa escolha.

Uma menina me perguntou:

- Se Òrùnmílá anota e Àjàlá e seus amigos fabricam as cabeças, quem escolhe a cabeça não escolhe um corpo?

Esses pequenos fazem cada pergunta.

Respondi:

- O corpo você escolhe junto com a cabeça e retira em outro departamento, na fábrica de corpos que é dirigida por Òsàálá.

Sendo assim você escolhe sua cabeça conhecida como Ori e juntamente o seu odu, depois você escolhe um corpo e junta tudo, então conversa com Òrùnmílá que dá as indicações.

Mas olhem bem crianças depois da escolha é que aquilo que conhecemos por espirito acompanha o corpo no nascimento.

Como assim perguntaram as crianças:

 - Ele já não tinha escolhido um corpo?

 Respondi então:

 - Meninos e meninas olhem bem tudo é duplo, existe uma cabeça e um corpo espiritual e um outro que é quando somos recém nascidos, um comportamento inicial e um comportamento construído com o passar do tempo.

Essa é a razão porque montamos assentamentos de Ori e Egbé, buscamos a essência inicial.

A cabeça que escolhemos tem as indicações gravadas de quando vamos nascer e qual o comportamento vamos ter, ao nascer se vamos ser gordos ou magros, professores ou jogadores de futebol, calmos ou agitados, tudo é anotado por Òrùnmílá.

A consulta a ifá é para nos orientar, ela serve para mostra o caminho por nós escolhido diante de Àjàlá.

Então um menino um pouco maior me perguntou:

- Somos diferentes mas temos a forma de pensar igual?

- Porque os mesmos amigos de Àjàlá participa da fabricação?

Respondi a ele:

- Os dezesseis amigos de Àjàlá trabalham em um departamento que tem mais duzentos e quarenta funcionários.

É muita gente que trabalha lá? disse o menino!

-Duzentos e cinquenta e seis funcionários conhecidos pelo nome de odus.

-Além disso existe alguma diferença no trabalho de fabricar as cabeças, perguntou o menino:

Respondi a ele:

- Sim, a matéria prima que é usada para a fabricação de nossas cabeças é uma tal essência conhecida como Egbé Orun que indica muitas coisas em nossas vidas.

Uma menina me perguntou:

-  Qual a cor da nossa pele indica essa tal Egbé?

Respondi a ela:

- Na verdade é um pouco mais complicado, Egbé fala muito de como vamos agir e como vamos nos sentir diante da vida.
Ela então me perguntou:

- Crianças diferentes tem comportamentos iguais aos de sua Egbé?

 Respondi:

 - Sim, percebi que todos ficaram calados pensando naquilo que eu tinha explicado.

Para encerrar a conversa com eles disse então:

 - Crianças vocês sabem quem fica na porta de saída do céu?

- Exu, é ele que confere se na retirada não pegamos a cabeça trocada, ele confere tudo e informa Orùnmílá.

Então uma última pergunta me foi feita:

- Uma menina me disse:

- Como é que sabemos a ordem dos fatos de tudo que escolhemos?

 Respondi a ela:

- Imagine uma grande fábrica com muitos departamentos, nessa fábrica existe um departamento de controle, o departamento da Iya mi, ela tem alguns secretários conhecidos pelo nome de ajoguns, são eles que organizam alguns fatos e datas por nós escolhidos.

Exemplo: quando vamos ficar doentes e quando vamos ficar sem dinheiro.

Quando eu me levantei um outro menino me perguntou:
- E os orixás também trabalham nessa fábrica, Ogun, Oxun, Xango e outros, o que eles fazem na fábrica?

Respondi:

- Eles fazem serviço externo, eles acompanham as cabeças para tentar consertar alguns defeitos de fabricação que podem aparecer.

Conversar com as crianças é muito bom.

sábado, 14 de março de 2015

A guerra santa e o Ifá.



Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola


Em visita recente à Salvador acompanhado de alguns membros de nossa família fui conhecer a feira de São Joaquim, local esse onde os membros dos cultos aos orixás costumam comprar folhas, cerâmicas, roupas e animais para os ritos. Empolgado com o passeio desfrutando das belezas da cidade, cheguei a feira e me assustei com o que eu ouvi, existia lá um serviço de auto falantes, onde um pastor pregava vigorosamente e insistentemente a palavra de cristo.

Para mim não foi surpresa o fato de assistir coisas semelhantes em vários lugares, o que me espantou foi que vários adeptos ao culto dos orixás faziam compra naquele momento e a impressão que tive foi que eles aceitavam com naturalidade.

 Refleti durante algum tempo sobre a questão considerando o fato que alguns sacerdotes de nossa religião ainda levam os iniciados para assistir missa na igreja católica, e a conclusão foi evidente mas difícil de aceitar.

Em um país que os líderes políticos estiveram envolvidos em roubos e assassinatos, sempre que nos defrontamos com alguma irregularidade, o trabalho das autoridades é tão ineficiente que gera uma sensação de vazio desmotivando a denúncia.

Atitudes como a do sujeito que cobra uma exorbitância por um ritual que ele alega ter aprendido com o pai, que aprendeu com o avô, etc., muitas vezes evidenciando a má fé, caracterizando claramente ritos que ele mesmo criou, substituindo o conhecimento pela criatividade, nos dias de hoje são bastante comuns.

  Para responsabilizar as pessoas em questão teríamos que fazer uma sessão espirita para ouvir todos seus antepassados punindo assim em efeito dominó o antepassado ilustre que não detinha o conhecimento mas que delegou ao descendente o mérito de administrar a insegurança sobre os fatos.
Sendo assim de posse de uma informação nada confiável o audaz vende o segredo familiar por um preço fora da realidade construindo assim uma imagem que detém um conhecimento inigualável que somente nesta ocasião será divulgado, originando o crime.

O cenário está pronto e o sacerdote nesse momento em ponto de destaque usa e abusa da oportunidade criando assim uma forma de se beneficiar sem ter responsabilidade com o que está sendo feito, atribuindo a responsabilidade e a origem do então conhecimento a um antepassado que normalmente é descrito como um grande sábio que veio da África.

Quando não é o antepassado responsável pelos atos é os espíritos incorporados que orientam os ritos, gerando assim a impunidade daquele que deveria a ser o único a ser punido.

Perante a lei tudo que o sacerdote aprende com seus antepassados ou na internet ou até mesmo em apostilas é de responsabilidade dele. Ninguém pode ser responsabilizado por algo que não teve participação, os ritos seguem por responsabilidade do oficiante, alegar responsabilidade de terceiros ou coautoria de um espírito é visto pelas autoridades, como um atalho para a impunidade que quase sempre denuncia o autor.

O fato é que um alto preço foi pago, a responsabilidade termina não sendo apurados na maioria dos casos, e na pratica todos perdemos, a não apuração de muitos ilícitos, na fé, é objeto cortante que retalha a nossa imagem.

A imagem do culto aos orixás no Brasil todo dia é prejudicada por alguém que se não é ignorante é desonesto, na grande maioria das vezes pessoas despreparadas dizem ter um conhecimento que não possuem ou terminam agindo com uma postura inadequada, mas a questão é para quem denunciar?

Na igreja católica aconteceu centenas de casos de sacerdotes que abusaram sexualmente de crianças e jovens adolescentes, em nossa religião, será que as denúncias não seguem em frente por não existir a possibilidade de receber uma indenização, ou seria vergonha das vítimas?

Caso como o que eu denunciei de um suposto sacerdote de Iya mi, em Santa Catarina, na cidade de Palhoça, conhecido como Oso, que faz sexo com todas as iniciadas, até hoje não foi apurado.

Em nossa religião esses casos fazem parte da página policial, mas com indícios estranhos, parece que existe uma estratégia para desestabilizar a imagem dos nossos sacerdotes.

A pergunta é quem se beneficia com essas notícias?

Aqueles que querem proibir o sacrifício de animais!

 Aqueles que lavam milhões de reais do crime organizado em suas igrejas!

A multiplicação das igrejas que nos atacam diariamente alimenta a GUERRA SANTA que acontece contra o culto dos orixás, em gabinetes, com um cheiro insuportável de corrupção, bispos evangélicos que tem milhões de dólares depositados no exterior em suas contas bancarias, agora deputados a serviço do crime, agridem Babalorisas e Iyalorisas, que em grande maioria não tem percepção de tudo que está acontecendo.

A falta de lideranças competentes estimula a desunião gerando um andar sem rumo de nossos sacerdotes, a luta contra o poder aquisitivo que mantem emissoras de TV nos atacando violentamente é desigual, os nossos desafetos se alimentam não de passagens bíblicas para nos atacar e sim de nossas próprias falhas.

É chegado o momento de pegar em armas, armas fortes como a verdade e a honestidade, o conhecimento nos fortalece e o conhecimento nos dá segurança, a verdade nos ilumina e a honestidade nos dá liberdade para agir.

Vamos lutar para manter a nossa fé e os nossos costumes, vamos lutar a GUERRA SANTA, mesmo que para isso tenhamos que cortar a própria carne.

Esse texto  é uma homenagem a grande líder religiosa, Maria Stella de Azevedo Santos, (mãe Stella de Oxóssi) do Ile Asé  Òpó Àfonjá, que luta em defesa da nossa fé com sabedoria e dignidade desde 19 de março de 1976.


GUERRA SANTA



Em visita recente à Salvador acompanhado de alguns membros de nossa família fui conhecer a feira de São Joaquim, local esse onde os membros dos cultos aos orixás costumam comprar folhas, cerâmicas, roupas e animais para os ritos. Empolgado com o passeio desfrutando das belezas da cidade, cheguei a feira e me assustei com o que eu ouvi, existia lá um serviço de auto falantes, onde um pastor pregava vigorosamente e insistentemente a palavra de cristo.

Para mim não foi surpresa o fato de assistir coisas semelhantes em vários lugares, o que me espantou foi que vários adeptos ao culto dos orixás faziam compra naquele momento e a impressão que tive foi que eles aceitavam com naturalidade.

 Refleti durante algum tempo sobre a questão considerando o fato que alguns sacerdotes de nossa religião ainda levam os iniciados para assistir missa na igreja católica, e a conclusão foi evidente mas difícil de aceitar.

Em um país que os líderes políticos estiveram envolvidos em roubos e assassinatos, sempre que nos defrontamos com alguma irregularidade, o trabalho das autoridades é tão ineficiente que gera uma sensação de vazio desmotivando a denúncia.

Atitudes como a do sujeito que cobra uma exorbitância por um ritual que ele alega ter aprendido com o pai, que aprendeu com o avô, etc., muitas vezes evidenciando a má fé, caracterizando claramente ritos que ele mesmo criou, substituindo o conhecimento pela criatividade, nos dias de hoje são bastante comuns.

  Para responsabilizar as pessoas em questão teríamos que fazer uma sessão espirita para ouvir todos seus antepassados punindo assim em efeito dominó o antepassado ilustre que não detinha o conhecimento mas que delegou ao descendente o mérito de administrar a insegurança sobre os fatos.
Sendo assim de posse de uma informação nada confiável o audaz vende o segredo familiar por um preço fora da realidade construindo assim uma imagem que detém um conhecimento inigualável que somente nesta ocasião será divulgado, originando o crime.

O cenário está pronto e o sacerdote nesse momento em ponto de destaque usa e abusa da oportunidade criando assim uma forma de se beneficiar sem ter responsabilidade com o que está sendo feito, atribuindo a responsabilidade e a origem do então conhecimento a um antepassado que normalmente é descrito como um grande sábio que veio da África.

Quando não é o antepassado responsável pelos atos é os espíritos incorporados que orientam os ritos, gerando assim a impunidade daquele que deveria a ser o único a ser punido.

Perante a lei tudo que o sacerdote aprende com seus antepassados ou na internet ou até mesmo em apostilas é de responsabilidade dele. Ninguém pode ser responsabilizado por algo que não teve participação, os ritos seguem por responsabilidade do oficiante, alegar responsabilidade de terceiros ou coautoria de um espírito é visto pelas autoridades, como um atalho para a impunidade que quase sempre denuncia o autor.

O fato é que um alto preço foi pago, a responsabilidade termina não sendo apurados na maioria dos casos, e na pratica todos perdemos, a não apuração de muitos ilícitos, na fé, é objeto cortante que retalha a nossa imagem.

A imagem do culto aos orixás no Brasil todo dia é prejudicada por alguém que se não é ignorante é desonesto, na grande maioria das vezes pessoas despreparadas dizem ter um conhecimento que não possuem ou terminam agindo com uma postura inadequada, mas a questão é para quem denunciar?

Na igreja católica aconteceu centenas de casos de sacerdotes que abusaram sexualmente de crianças e jovens adolescentes, em nossa religião, será que as denúncias não seguem em frente por não existir a possibilidade de receber uma indenização, ou seria vergonha das vítimas?

Caso como o que eu denunciei de um suposto sacerdote de Iya mi, em Santa Catarina, na cidade de Palhoça, conhecido como Oso, que faz sexo com todas as iniciadas, até hoje não foi apurado.

Em nossa religião esses casos fazem parte da página policial, mas com indícios estranhos, parece que existe uma estratégia para desestabilizar a imagem dos nossos sacerdotes.

A pergunta é quem se beneficia com essas notícias?

Aqueles que querem proibir o sacrifício de animais!

 Aqueles que lavam milhões de reais do crime organizado em suas igrejas!

A multiplicação das igrejas que nos atacam diariamente alimenta a GUERRA SANTA que acontece contra o culto dos orixás, em gabinetes, com um cheiro insuportável de corrupção, bispos evangélicos que tem milhões de dólares depositados no exterior em suas contas bancarias, agora deputados a serviço do crime, agridem Babalorisas e Iyalorisas, que em grande maioria não tem percepção de tudo que está acontecendo.

A falta de lideranças competentes estimula a desunião gerando um andar sem rumo de nossos sacerdotes, a luta contra o poder aquisitivo que mantem emissoras de TV nos atacando violentamente é desigual, os nossos desafetos se alimentam não de passagens bíblicas para nos atacar e sim de nossas próprias falhas.

É chegado o momento de pegar em armas, armas fortes como a verdade e a honestidade, o conhecimento nos fortalece e o conhecimento nos dá segurança, a verdade nos ilumina e a honestidade nos dá liberdade para agir.

Vamos lutar para manter a nossa fé e os nossos costumes, vamos lutar a GUERRA SANTA, mesmo que para isso tenhamos que cortar a própria carne.

Esse texto  é uma homenagem a grande líder religiosa, Maria Stella de Azevedo Santos, (mãe Stella de Oxóssi) do Ile Asé  Òpó Àfonjá, que luta em defesa da nossa fé com sabedoria e dignidade desde 19 de março de 1976.

Babalawo Ifagbaiyin Agboola