sexta-feira, 15 de maio de 2015

A literatura sobre orixá 


Autor: Babalawo Ifagbaiyin

O ser humano tem uma capacidade incrível de criar e inovar, é louvável o avanço que percebemos nas mais diversas áreas, porem temos que dizer que quando se fala de orixá, a criatividade somada a falta de informações geram grandes prejuízos ao saber.

Desde de 1830 aproximadamente escritores com boas e más intensões escrevem sobre os orixás, é surpreendente a quantidade de absurdos que foram escritos ao longo do tempo.

Eu sempre digo para os nossos Babalawos “estudar é preciso” mas se você for estudar na internet praticamente está jogando o tempo fora, em quase a totalidade dos casos que acompanho o awo perde muito tempo com a literatura errada.

Costumamos dizer que o papel aceita tudo e cabe a quem lê identificar o que é bom e o que é ruim, o número de pessoas que escrevem sobre orixá cada dia aumenta mais e o fato é que muitos nem são iniciados e se atrevem a escrever.

Vejo pessoas que não são iniciadas em ifá escreverem sobre ifá, então gostaria de citar alguns dos grandes equívocos escritos:

- 1884, Baudin sugere que algumas mulheres velhas se diziam feiticeiras somente porque o que escritor estava perguntando, mas na verdade ele não acreditava nesses relatos.

- 1933, Nadel escreveu que já não existia mais mulher cultuando Iya mi.

- 1953, Debrunner diz que ação combinada dos missionários e professores destruíram a antiga religião de orixá.

- 1940, Willians escreve que os caçadores de bruxas faziam com que as mulheres confessassem cultuar Iya mi, escreve mais ainda, diz que elas eram convencidas a abandonar o culto por algumas moedas.

- 1884, Baudin diz que o pássaro de Ìyà mi é uma coruja.

-  1943, Maupoli diz que Ìyà odu é um vodu.

- 1894, Ellis indica que Oduduwa é a grande deusa negra.

- 1884, Baudin escreve que Oduduwa é a esposa de Obàtálá.

- 1885, escreve que ìyà mi se compara a virgem santa.

- 1954, Lydia Cabbrera retrata que Oduduwa é esposa de Obàtálá e que os dois moram em uma cabaça com 16 búzios.

- 1975, Joana Elbein dos Santos (Os nagôs e a morte, pág. 121), o poder feminino é representado por Odua.

Esses são pequenos exemplos, mas poderíamos coletar uma vasta quantidade de equívocos extremamente prejudiciais para os jovens estudantes da religião de orixá.

Muitos autores citam o padre Noel Baudin como fonte, imaginem que absurdo, na realidade eles ficam lendo alguns livros antigos e escrevendo seus livros, reproduzindo informações que jamais deveriam ser divulgadas por falta de credito.

Seus livros se baseiam em outros autores, que se baseiam em outros livros de outros autores dando origem a bola de neve da falta de informação.

Observando algumas dessas situações percebemos que a falta de informações em muitos casos é substituída pelo preconceito e racismo, não iniciados e membros de outras religiões terminam relatando aquilo que eles imaginam.

Esses são os casos mais conhecidos embora todos os dias nas redes sociais sejamos bombardeados por absurdos semelhantes como os acima citados.

Vou colocar aqui só alguns exemplos:

- Logun ede é seis meses feminino e seis meses masculino.

- Pomba gira e Iya mi são da mesma falange.

- Nos ebos para Ogun tem que levar um alguidar pequeno com milho para o cavalo dele.

- Orunmila fala sobre os mesmos princípios que a umbanda.
- Mulher não pode ser iniciada em Egungun.

- Tranca rua é o exu do Osun.

-Os orixás é igual a super heróis, Ewa é igual a mulher maravilha.
Eu poderia ficar escrevendo horas citando os absurdos que vejo na internet, mas isso não vai contribuir muito, o importante é alertar as pessoas sobre a nossa religião e a necessidade de estudar e aprender a cultuar orixá.

É verdade que muitos desses escritores escreveram bons trabalhos, o problema é como aquele que não conhece vai identificar o que é bom ou o que é ruim.

Os iniciados não devem comprar apostilas, porque se um dia alguém perguntar com quem você aprendeu, a pergunta certamente vai ficar sem resposta.