segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Qualidade de orisa

Qualidade de orisa


Criatividade brasileira ou incapacidade dos sacerdotes de entenderem o óbvio

Texto:Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Quando os Orisas chegaram ao Brasil vieram pelas mãos de escravos oriundos de várias partes do território Yoruba.  Evidentemente isso gerou alguns problemas, entre esses podemos citar, a diferença de nomes dados ao mesmo Orisa.

Hoje em dia me surpreende que algumas pessoas ainda tenham dificuldade em entender o óbvio.
Em cada região o mesmo Orisa recebe nomes diferentes, o que alguns escritores definem como títulos dados em determinados momentos de uma louvação ou exaltação.

Fazer disso um mercado onde em cada moeda adicionada em um igba é criada uma nova qualidade de Orisa, caracteriza uma total falta de capacidade ou uma certa esperteza visando lucro.

Osun é Osun, se em um lugar ela recebe o nome de Opara, Apara, Ponda, Panda, Iponda ou Igimum, isso não cria um novo Orisa. Da mesma forma, não me permite colocar uma espada, um facão ou até mesmo um arpão no igba de um Orisa que em nada tem ligação com esses elementos.

O nome dado a divindade não muda o comportamento do Orisa e sim algumas questões relativas à geografia e a flora. Exemplo como folhas, hortaliças e tubérculos usados para os rituais, encontrados em algumas regiões e em outras não, mas em nada muda a essência.

Com um nome Osun é uma figura feminina de grande vaidade, em outro lugar e com outro nome pode ser reverenciada como guerreira. Mas de forma alguma a mudança de nome não cria uma nova Osun com mais ou menos idade e muito menos com um comportamento diferente. Isso se aplica a todos Orisas.

Um exemplo que eu gosto de usar é Oloogun Ede, que foi transformado de guerreiro em uma criança, e algumas pessoas chegaram ao exagero de colocar nesse grande Orisa um espelho em seu igba. Não contentes, chegaram ao cúmulo de fazer o assentamento desse Orisa em uma vasilha de louça.

Existe uma infinidade de situações interessantes que podemos citar. Os filhos de Osaala são vitimas de um grande numero desses equívocos. Normalmente, para eles, são assentados inúmeros Orisas que não comem dendê, no entanto sabemos que a proibição do uso de dendê é restrita somente a Osaala.

No Orisa Esu então é impressionante o numero de erros. Tem os que levam chifre, outros que tem rabo e até um com pedras de encruzilhada e um com tridente de ferro. Outros com terra de cemitério e alguns que também levam tabatinga. Será mesmo que essa gente não conhece a terra que vai em Esu? Existe até o que é considerado feminino, mas com um nome de um Vodum que com o tempo ficou afeminado (uma Léba).
Isso deixa qualquer um que conheça um mínimo sobre Seu, apavorado com o rumo que está seguindo nossa religião.

Sabemos que nossas tentativas podem com o tempo contribuírem com a mudança de mentalidade de alguns sacerdotes, mas também temos conhecimento de que estamos contabilizando um grande número de opositores. Mesmo assim não mudaremos nossa linha de atuação, buscando esclarecer nossos leitores.

Ire, o

Gilmar Ofun-Oyeku