sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A casa do Orixá e Ifá  II




Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola.

Algumas pessoas me solicitaram uma abordagem mais profunda na questão da casa do orixá, atendendo a solicitação de nossos leitores nesse segundo texto vamos analisar alguns aspectos da administração do egbe òrìsà.

-Não existe custo mensal para hospedar um orixá na casa do sacerdote, pois como mencionamos no texto anterior a casa não é do sacerdote ela pertence aos òrìsàs.

-É um absurdo cobrar para os iniciados limpar os assentamentos dos orixás, quem faz a limpeza é o iniciado como é que alguém pode pagar por seu próprio trabalho?

Quando alguns sacerdotes resolvem criar dificuldades para os iniciados não devem esquecer que os orixás estão observando o seu comportamento mesquinho.

-A manutenção da casa de Òrìsà é responsabilidade de todos iniciados, mas isso não quer dizer que o iniciado seja obrigado a pagar mensalidade. O Egbe tem muitas despesas, mas não é uma sociedade, o fato de tornar a casa de orixá uma sociedade implica diretamente em uma prestação de contas assim como permiti que o sócio escolha em votação quem vai administrar a casa. No ile òrìsà não existe votação para escolha de um administrador, sempre a escolha é feita pelo orixá.

Pessoalmente a ideia de transformar a casa de òrìsà em uma sociedade não me agrada, parece que os custos para manter as casas com o passar do tempo ativaram a criatividade de alguns de nossos irmãos que terminaram se juntando com alguns políticos safados para roubar dinheiro de verbas que deveriam ser aplicadas em questões mais importantes que a manutenção do luxo desses canalhas.

-Em uma casa de Òrìsà existe dois tipos de assentamento de òrìsà, o privado e o comunitário, a manutenção do privado é exclusiva responsabilidade do iniciado. No assentamento comunitário a responsabilidade da manutenção é dividida com todo o grupo de iniciados.

-Quando um grupo de pessoas resolve ajudar alguém que vai ser iniciado quase sempre deixa de existir a valorização da iniciação, o ideal é que a pessoa se comprometa integralmente com os custos e as responsabilidades da iniciação, quando isso não é possível devemos ajudar, mas a pessoa deve participar com grande parte das compras.

Acredito que uma casa de orixá deve ser responsabilidade de todos aqueles que frequentam as suas dependências, mas isso em momento algum obriga as pessoas a fazerem doações e pagarem mensalmente qualquer quantia. Os custos da manutenção do egbe òrìsà não devem ser colocados como uma obrigação de seus membros, esses custos devem ser vistos como uma necessidade que implica em uma condição mais adequada para os frequentadores.

-Um sacerdote não deve conduzir uma casa de orixá sozinho, sendo assim é evidente a necessidade de cargos na estrutura da egbe, o critério para o bom desenvolvimento do desempenho da função na casa de orixá é o conhecimento.  O sacerdote que vende cargos é um dos piores administradores que pode existir em uma família de orixá.

-Se o escolhido para um cargo não estiver preparado para a função teoricamente implicara em um duplo problema, primeiro o indicado não é capaz e devera ser substituído em suas funções por outra pessoa que fara o trabalho. Segundo, o substituto que fara o trabalho não estará satisfeito em razão de ser obrigado a desenvolver uma função sem que haja o reconhecimento dele para ocupar a mesma.

-A manutenção do espaço religioso assim como a limpeza é responsabilidade de todos os frequentadores iniciados ou não.

-Uma casa de òrìsà deve ter material necessário para o pronto atendimento dos frequentadores, assim dando uma resposta rápida aos problemas apontados pelos òrìsàs em consulta, esse material deve ser reposto imediatamente. O estoque de material é a única forma de prestar um atendimento rápido nos feriados e nos fins de semana, sem esse material o atendimento fica prejudicado.

- As roupas assim como as toalhas e roupas de cama devem ser trazidas para a egbe e devem ser lavadas na casa do iniciado, salvo raríssimas exceções.

 Nos dias de hoje manter pessoas na casa de orixá para fazer a manutenção do espaço não é aconselhável, considerando o numero de pessoas que buscam na justiça do trabalho o reconhecimento dessas funções e a sua remuneração. O ideal seria que em um dia da semana todos os participantes desenvolvam as atividades de manutenção do espaço em conjunto e com a orientação direta do sacerdote.

-Receber convidados na casa do orixá é um prazer, mas convidado é convidado e a sua participação na egbe se limita ao espaço destinado ao publico, salvo exceção quando convidado para participar dos rituais.

Em um ile òrìsà, existe três tipos de espaço, o publico, o sagrado e o destinado ao sacerdote, essa regra deve ser mantida.

O espaço do sacerdote é um espaço exclusivo e não deve ser frequentado por iniciados.
O quarto destinado aos orixás deve ser administrado pelo sacerdote e a sua chave não pode ser entregue a outras pessoas.

 O espaço público deve ser mantido por todos iniciados.

O bom andamento das atividades da casa do òrìsà retrata a administração exercida pelo sacerdote e a imagem de nossa religião, a sociedade deve nos ver como bons olhos, o nosso comportamento deve ser discreto e respeitoso, somos representantes de nossos antepassados e devemos honra-los.





quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A casa do orixá.

A casa do orixá e Ifá.


Autor:Babalawo Ifagbaiyin Agboola.

No ano de 1981 comecei a viajar divulgando a religião dos òrìsà, durante esse período tive a oportunidade de conhecer alguns países, e grande parte do território nacional brasileiro, nessas viagens conheci varias casas de òrìsà.

 Observei situações que me deixaram em algumas ocasiões tristes e em outras em uma posição bastante desconfortável.

 Testemunhei equívocos nas casas de òrìsà que nem sempre são frutos da falta de informação, muitas vezes a vaidade e a pretensão são as grandes responsáveis por esses erros.

Não temos a pretensão de apresentar esse trabalho como sendo a única e exclusiva verdade sobre o assunto, vamos pautar a escrita pela logica e o respeito à herança religiosa dos yorubas em nosso país.
A casa de òrìsà normalmente é uma propriedade fruto do trabalho de pessoas que empregam o seu ganho para criar um espaço para o òrìsà, sendo assim a logica indica que o proprietário é a divindade e não o homem.

Vamos explicar essa situação com exemplos do que acontece no dia a dia das casas de òrìsà:
1-       Se o sacerdote tem uma filha que vai se casar e ele decidir convidar o jovem casal para que habitem um dos espaços na área da casa de òrìsà é evidente que esse convite só pode ser formulado depois de uma consulta com resposta positiva dos òrìsàs.

A mesma posição deve ser mantida para qualquer individuo que possa vir a ser iniciado ou residir na área das divindades, tudo que possa influenciar no andamento do egbe deve ser submetido à apreciação do proprietário do espaço, o òrìsà.

2-      Outro exemplo que podemos citar é a pretensão de uma ampliação ou alteração na construção, sem a consulta ao òrìsà, isso seria impossível, embora nós já tenhamos presenciado inúmeras situações que o sacerdote toma as decisões sem ouvir a divindade.

3-      É muito comum no Brasil após a morte do sacerdote titular de um terreiro que haja uma disputa entre os herdeiros consanguíneos e os herdeiros ligados a religião.

Nesse aspecto gostaríamos de deixar bem claro que a religião dos òrìsà é uma forma de manter acesa a chama ancestral, sendo assim, sempre, sem exceção quando houver duas pessoas com o mesmo nível de informação e cargo religioso em litigio para ocupar uma função, a tendência natural é que aquele que tem grau de parentesco seja escolhido em uma orientação espiritual e não aquele que é um herdeiro exclusivamente religioso.

4-      O espaço chamado casa de òrìsà por uma questão obvia destina o seu melhor aposento para o òrìsà patrono daquela instituição, ou para um grupo de òrìsà cultuados naquele local.

Se a divindade é a proprietária é natural que o melhor espaço da propriedade seja destinado a ela, fato esse confirmado no dia a dia das casas de religião onde quando visitadas, o visitante primeiro saúda o òrìsà para depois saudar o sacerdote.

Se fosse o inverso o homem seria, mais importante que o seu ancestral e a palavra religião não teria sentido, já que na tentativa de nos religarmos ao divino nos submetemos a uma hierarquia bastante clara onde o òrìsà esta em primeiro lugar.

5-      A questão da propriedade e da sua titularidade das casas de òrìsà habita os tribunais há muito tempo, embora o ideal fosse que pessoas religiosas que se dizem sacerdotes não precisassem recorrer a esse tipo de debate. Seria de bom tom que o religioso seguisse e respeitasse a decisão dos Òrìșàs diante de qualquer tipo de litigio.

As controvérsias não acontecem somente nas questões da titularidade e da propriedade em si, é comum presenciarmos a disputa da titularidade da função religiosa independente da propriedade..
Presenciamos inúmeras vezes situações que criam uma enorme confusão diante da sociedade, um exemplo é o duplo sacerdócio em uma mesma propriedade. Casais iniciados para a mesma função desempenhando em um mesmo espaço trabalhos paralelo. Quando a regra é simples o mais antigo e mais capacitado sempre deveria ser o titular.

6-      Existe também uma grande polemica quando o herdeiro escolhido de uma casa de òrìsà não esta capacitado, embora seja bem fácil de compreender a função do responsável interino, que ocupa a titularidade com o tempo pré-estabelecido para a capacitação do real herdeiro.

Se não fosse só a questão financeira e jurídica o número de situações presenciadas por nós não nos causaria tantas surpresas. Porém um agravante é bastante comum, supostos Òrìșàs ou divindades em visita aos seus descendentes que muitas vezes terminam advogando em causas de seus simpatizados criando uma imagem que prejudica muito a história de gerações e gerações de sacerdotes.

A coerência e o respeito assim como a ética, comumente são deixados para trás por pessoas movidas por ambição e ganância, isso não deveria acontecer nos meio religioso, mas infelizmente essas situações são bastante comuns.

 Esses fatos não aconteceriam ou seriam facilmente administrados se a formação dos lideres religiosos fosse mais exigida, enquanto isso não acontece os tribunais substituem os òrìsàs nas decisões.







sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Obrigação de ano para òrìsà.


Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola.

Quando eu ouço falar em obrigação de um ano ou de sete anos algumas associações me ocorrem, minha mente automaticamente por ser associativa dispara inúmeros questionamentos:

Você se alimenta uma vez por ano?

Você coloca credito no seu celular uma vez por ano?

Você coloca gasolina no seu carro uma vez a cada sete anos?

É estranho pensar que algumas pessoas imaginam que o òrìsà fica lá no assentamento a disposição delas e que eles respondem todos os dias para proteger as pessoas como retribuição a uma suposta obrigação anual.

O individuo que raciocina assim é o mesmo que tem em sua mente uma receita de bolo para ebó e para as iniciações e as chamadas obrigações anuais, como pode alguém ser tão pretencioso que supõe mesmo até um ano antes imaginar a data e aquilo que o òrìsà vai aceitar?

Será que esse povo pensa que o òrìsà esta ali a disposição deles e que ele é um prestador de serviço?

É comum chegar pessoas minha casa para consultar dizendo que na obrigação de um ano vai ser oferecido um determinado presente para o òrìsà, é difícil para mim que vivo o òrìsà todo dia entender essa forma de pensar. Imaginem você em uma relação afetiva buscar contato com a pessoa amada uma vez por ano, imagine você beijar os seus filhos uma vez por ano, tente imaginar você recebendo carinho somente uma vez por ano!

Se você precisar do atendimento médico e o plantonista do hospital informar a você que só daqui um ano você vai ter direito ao atendimento, como você vai se sentir?

Se a relação entre os homens ficar prejudicada em um contato único anual imaginem com as divindades considerando o nível de exigência de alguns indivíduos que querem resolver a vida sentimental, profissional e espiritual em um único contato com o òrìsà.

A inocência ou a ignorância não desculparia tal raciocínio por questão óbvia, se o òrìsà nos abastece da mesma forma que a água mata nossa sede, como é possível imaginar uma relação tão fria e sem afeto.

Alguns iniciados rezam para os orixás todos os dias e fazem seus pedidos diariamente, mas tem o habito de agradecer uma vez por ano.

O que será que esse povo imagina que é o òrìsà?

Algumas pessoas quando vão namorar no motel ou abusam um pouco mais da bebida, ficam bem à vontade porque imaginam que o òrìsà está na casa de asé, esquecem elas que o òrìsà tudo vê e tudo sabe.

 Talvez essa forma de pensar complemente o raciocínio acima descrito, pois se o òrìsà esta a minha disposição ele vai aceitar ficar esperando que o efeito da bebida passe ou que eu saia do motel para que ele se aproxime.

 Se o òrìsà é na mente desse pessoal somente um servidor que vai responder quando eles chamarem, então ele vai aceitar aquilo que eles oferecerem e quando eles quiserem, pensam os idiotas!

Esse tipo de òrìsà imaginado por esses desavisados, totalmente sem vida e sem vontade, quando invocado nas comumente descritas obrigações de ano, respondera da mesma forma que foi tratado durante o ano.  

Será que alguém acredita que ser iniciado para òrìsà é isso?






quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O orixá esta desaparecendo?



Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Se um sacerdote do culto ao òrísà ou ifá durante a sua vida aprender quinhentos ebós e ele não confiar plenamente em seus iniciados ele irá transmitir com medo de ser traído a metade de tudo que aprendeu, ou seja, duzentos e cinquenta ebós.

Entre seus filhos o mais dedicado que herdou esse montante se pensar da mesma forma irá transmitir para o neto do sacerdote citado acima a metade do que aprendeu aproximadamente cento e vinte e cinco ebós.

Assim acontecerá com o conhecimento sobre cantigas e sobre folhas e ebós, não é preciso ser bom em matemática para entender a logica dos fatos, a sabedoria ancestral trazida do território yoruba está desaparecendo.

Se analisarmos o que esta acontecendo na grande maioria das casas de religiões do Brasil, vamos identificar facilmente o entra e sai de iniciados nas casas de asè. Essa dança das cadeiras prejudica a todos, prejudica as casas de asè e a imagem de nossa religião como um todo.

Todos aqueles que abandonam as suas famílias de asè presume que estão se afastando porque a casa que os iniciou não deu a eles o que eles esperavam, mas também é verdade que os iniciados muitas vezes geram uma expectativa impossível de ser realizada na religião de òrísà, muito só conseguiriam resolver o que almejam com mágica.

Não vamos analisar as expectativas ou as decepções, temos que considerar é o enfraquecimento progressivo da sabedoria ancestral herdada em nosso país.

No território yoruba existe uma solução para esse tipo de problema que aqui se perdeu com o passar dos anos, na terra mãe, a sociedade Ogboni resolve esse problema.

Na organização Ogboni em razão dos juramentos e dos compromissos assumidos, a verdade transita mais fácil entre iniciados em iniciadores e os segredos não se perdem como tanta facilidade como em nosso país.

Um Oluwo Ogboni ou um Apena Ogboni são considerados guardiões dos segredos sobre a cultura de òrísà, são eles que escolhem entre os seus iniciados para quem deve ser passado o conhecimento, com esse tipo de compromisso de fidelidade e respeito segredos deixaram de ser enterrados com os verdadeiros sacerdotes.

A desconfiança enfraquece qualquer tipo de relação, a insegurança apodrece os alicerces da amizade do amor e do respeito, a relação sacerdote e iniciado deve ser tranquila e pautada na sinceridade e na transparência.

É digno de pena aquele que tem conhecimento e não divide com seus seguidores, aprender e não ensinar o que aprendeu é um acumulo de informações que pesa para aquele que a detém.
Se outrora em nosso país existiu um grande numero de iniciados na sociedade Ogboni e os museus brasileiros provam isso, chegou o momento de ampliar o numero de iniciados como forma de salvar tudo aquilo que esta se perdendo.

ESTÁ TUDO ENTREGUE A TERRA SOBRE A QUAL NÓS FIZEMOS O JURAMENTO
SOBRE A TERRA NÓS RESPIRAMOS
SE VOCÊ POR SOBRE A TERRA ME TRAIR
SE VOCÊ POR SOBRE A TERRA RESPIRAR
A RESPIRAÇÃO MATARÁ VOCÊ
A JUSTIÇA ESTÁ NAS MÃOS DA TERRA SOBRE A QUAL NÓS FIZEMOS O JURAMENTO...



Autor Babalawo Ifagbaiyin Agboola








quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Òrìsà ignorante.



Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola.

Quando eu sou procurado por pessoas que me dizem que suas vidas não estão bem porque elas têm que dar para òrìsà algo que ele teria pedido e que elas não deram por que não tiveram condições de comprar, eu respondo, seu òrìsà é ignorante?

Se o òrìsà pede alguma coisa que você não pode fazer ele não é seu amigo, é seu inimigo e um espirito que não merece culto.

Espirito que não tem visão e que não evolui, ele é condenado ao esquecimento.

É comum assistir essa cena que descrevi acima, assim como é bastante comum encontrar pessoas que são capazes de fazer o possível e impossível para seguir as orientações do seu òrìsà.

 Será que a pessoa que esta transmitindo desejo do òrìsà é confiável?

Será que ela tem ética?

Será que ela é honesta?

Será que o que ela esta dizendo é verdade?

Acredito que em muitos casos o sacerdote inventa a suposta necessidade por falta de caráter ou por falta de dinheiro.  Inventar uma suposta cerimônia e pedir muito dinheiro para pessoas que mal tem dinheiro para suas necessidades, eu não acredito que seja o desejo do òrìsà.

O número de pessoas que atendo que se decepcionaram com a religião por conta da falta de preparo e de ética dos babalórisás, Ìyálóòrìsà, e Bàbàláwos se multiplicam a cada dia.

Uma pessoa que deseja orientação espiritual deveria investigar a pessoa que o orientará.
Um bom sacerdote da religião dos òrìsà tem sua formação atestada pelo seu comportamento, e pelo seu conhecimento.

Se alguém lhe mostrar um certificado que participou de um evento, não quer dizer que ele tenha conhecimento sobre o tema proposto pelos organizadores, e muito menos que tenha capacidade para promover um suposto domínio do tema.

Para ser um sacerdote é necessária ética, fé e trabalho duro na casa de òrìsà durante anos, se não for assim não existirá um bom sacerdote.

O sacerdote confiável jamais vai tentar convencer uma pessoa a fazer algo que ela não tem condições usando para isso a palavra do òrìsà.







terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Ifá, combatendo a venda de apostilas.

Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola.

Comunico a quem  estiver interessado que não existe certificado de recebimento de um assentamento de òrìsà, assim como não existe diploma de sacerdote.

Quando as pessoas no Brasil descobriram que muito da essência do culto ao òrìsà se perdeu, começaram imediatamente uma procura por informações confiáveis.

Como em todos os seguimentos existem pessoas boas e ruins, em nossa religião não é diferente, em meio a tudo isso surgiram os famosos vendedores de apostilas, o negocio deu tanto lucro e espalhou por todo o país, começou a aparecer apostilas de bori, de assentamento de òrìsà, de jogo de búzios e até de ifá.

No meio desse mar de sujeira se destacaram dois grupos:

- Os que tinham algum conhecimento e venderam anotações particulares.

- Os que não sabiam nada e na ânsia de ganhar dinheiro misturaram ou inventaram informações ditas por eles valiosas, dando inicio então ao que eu chamo de processo analfabético religioso.

A maluquice foi tanta que a cada apostila eram inventadas uns cem números de qualidades de Òrìșàs, além dos famosos ebós para todas as situações, passando então a existir apostilas, certificados e diplomas para tudo que houvesse procura.

Imagino que grandes partes das pessoas que receberam esses diplomas acreditaram que isso fosse um habito no território yoruba, algumas dessas pessoas chegaram até acreditar que fazendo uma cerimonia de iniciação e portando um diploma elas seriam Bàbàláwos ou Babalórisás.

Como não existe um órgão que regula essas questões envolvendo a venda de diplomas e apostilas, a situação se agravou tanto, que até nos meios de comunicação é visto a comercialização dos malditos papeis.

 Diante disso eu pergunto  se alguém acredita que tendo dinheiro para ser iniciado e recebendo um diploma  serão reconhecidos pelo que esta escrito nele.

 A experiência, a dedicação e o respeito podem ser substituídos por um papel?

 Livros que ensinam você a fazer seu próprio ebo tiveram tanta aceitação quanto os diplomas, as apostilas e certificados, porém na pratica os ensinamentos não funcionarão. Ebos com chantilly, Champion e estrogonofe misturado com bonecos de plásticos coloridos, e um cem número de outras tantas loucuras infectaram as mentes dos sedentos de informação.

Eu sempre digo que o pior tipo de ladrão que existe é aquele que  rouba a fé daqueles entregam  seus sonhos nas mãos dos Òrìșàs.

 Todas essas decepções implicaram diretamente em um grande numero de pessoas que se afastaram das casas de òrìsà, e ingressaram nas igrejas evangélicas.

 Foram esquecidos fundamentos básicos como o respeito e a hierarquia e a verdade outrora aprendida no dia a dia, foi substituída por um monte de dúvidas encadernadas.

Eu concordo que devemos ler bons livros e até que tenhamos um caderno de anotações, mas a coleção de apostilha comercializada em nome da fé e o diploma que atesta que você não sabe nada certamente deveriam deixar de existir, os únicos que sentiriam falta seriam os usurpadores  que se beneficiam com essa sujeira.



sábado, 23 de janeiro de 2016

Jogo de búzios


Combatendo a venda de apostila.

Autor:Babalawo Ifagbaiyin Agboola 


Esse texto é uma resposta para o grande número de leitores do nosso trabalho publicado ontem que solicitaram mais esclarecimentos sobre o jogo de búzios, deixo claro que essa postagem é para leigos e iniciantes, em nenhum momento tive a preocupação com a acentuação da língua yoruba, bem pelo contrario facilitamos o entendimento para uma leitura mais fácil para as pessoas que não estão acostumadas a linguagem comumente usada por sacerdotes da religião tradicional, assim como facilitamos as traduções da reza inicial. Consideramos que nenhum segredo foi divulgado aqui por já existem na literatura brasileira trabalhos semelhantes.

Búzios para iniciantes.

Como efetuar consulta ao jogo de búzios.
a- Rezar mo juba (eu saúdo)
Iba Olódùmarè
Saúdo Deus
Iba origun mérin aiye
Saúdo quatro cantos da terra
Iba mérìndilogun odu agba
Saúdo dezesseis odus mais velhos.
Iba gbogbo Omo odu
Saúdo todos os odus filhos
Iba odu mi
Saúdo meu odu
Iba ìyá mi Osoronga
Saúdo minha mãe Ancestral
Iba gbogbo egúngún agba
Saúdo todos meus antepassados
Iba Èsu
Saúdo Exu
Iba Òrìsà mi
 Saúdo meu orixá
Iba gbogbo òrìsà
Saúdo todos os orixás
Iba Osun
Saúdo Oxum
Iba Obàtálá
Saúdo Oxalá
Iba Òrúnmìlà
Saúdo Òrúnmìlà

*Perguntar três vezes Èsu soro ? (Exu você vai falar).

 Obs: pode ser que o òrìsà não responda se isso acontecer pode rezar novamente e chamar os orixás

b- confirmar se o òrìsà esta respondendo
c- dizer o nome da pessoa para quem vai ser feita a consulta e o nome de sua mãe.
d-iniciar a consulta
1-odu
2-...
3-ibo
4-ire
5-ibi

Se estiver ibi segue a consulta

6-ibi orí (pode ser forma de pensar, maneira de ver as coisas, fazer bori se necessário).
7-ibi egúngún (conflito com antepassados descontentes com o caminho q a pessoa esta seguindo, perturbação espiritual).
8-ibi òrìsà (verificar qual).
9- ibi ajogun (verificar qual).
10-ibi ikú (morte)
11-ibi arun (doença)
12-ibi ofo (perda)
13-ibi Ejò (confusão, problemas).
14-ibi igedé ou ajé (feitiço), abilu.
Segue a consulta para ver se a pessoa vai vencer aquele obstáculo.
15- isegun (vitória)

Se for o caso faz mais uma perguntar, qual òrìsà vai ajudar aquela pessoa nesse momento, ou qual o òrìsà que protege aquela pessoa...

16-Orisa ire
Regras importantes:
1° ...
2° Caída impar é não e par é sim, nos casos de...
3° Ogbe é Absoluto, nunca se apura o jogo, é caída determinante.
4°Ofun só perde para Ogbe...
5° Quando o odu do ire e o ibi é igual o odu está ire, pedir mão direita se ...

1-Búzios abertos: Òkànràn- Èsu, Ṣàngó, Egúngún, Oya e Orànmiyán.

Problemas com justiça, sofrimento, coisas negativas, pessoa tem que fazer tudo certo, não se opor contra convenções, cuidado com a saúde, doenças crônicas, falta de dinheiro, inimigos.
IRE- Novo caminho, oportunidade material, progresso.
 IBI- Medo, insegurança, impulsividade.

2- Búzios abertos: Eji oko- Ibeji, Iya mi...
Escuridão, infelicidade, morte ma sorte, feminino, ancestral apoiando, solução para os problemas, depressão, perigo, mulher ciumenta.
IRE-Nascimento, dualidade, inicia.
IBI-Morte, escuridão, desordem.

3-Búzios abertos: Ògúndá- Ògún, Ọ̀sanyìn e Èsu.
Brigas, traidores, hostilidades disputa, confiou na pessoa errada, problemas financeiros e pessoais, dar de comer Ògún, e Orí.
habilidade em abrir portas para os outros, emprego.
IRE-Profissão, construção, força.
IBI-Violência, desastre, doença, brigas.

4- Búzios abertos: irosun- Ògún, Egúngún, Yemọja, Orí.
Popularidade, desanimo, perda de interesse, dificuldades financeiras, e emocionais, respeitar ancestrais, ligação com o pai, aprender a ter paciência, agradar Èsu, Orí.
IRE-Caminhos abertos, realização, ambição
IBI-Intranquilidade, inquietação, arrependimento.

5- Búzios abertos: Ose- Osun, Ògún
Bom momento para amor, e dinheiro, casamento, agradar Osun, prosperidade, agradar Ṣàngó e Ifá para vencer inimigos, deve fazer ebó autoconfiança é uma tragédia para essas pessoas, cuidar da saúde.
IRE-Suavidade, ingenuidade , amor, riqueza, riqueza.
IBI- Ilusão, falta de foco, fofoca, curiosidade

6- Búzios abertos: Obàrà- Oxalá, Osòosì, Ṣàngó
Incerteza, suspense, fala de poder de decisão, compra por impulso, nervosismo, pressa, cuidar do Orí, bloqueios ou dificuldades temporais e muitos inimigos.
IRE-Sorte, paciência, habilidade, potencial.
IBI- Inveja, roubo, perda, inquietação.

7- Búzios abertos: Odi - Lógunéde, Osòosì, Seu, Obàtálá.                                                                               
Inimigos secretos,obstruções,sofrimento,pressão,calunia,morte,súbita,vida longa, cuidar Orí.
IRE-Liderança, persistência, sensibilidade.
IBI- Polêmicas, problemas, brigas, traições

8- Búzios abertos: Eji Ogbe- Obàtálá, Ifá, Yemọja, Obalúwàiyé
Iluminação, bem estar, vitória, despertar espiritual novos negócios, novos relacionamento, masculino, primeiro, ciúmes, inicio da vida espiritual,
Equilíbrio, sucesso, negócio sem lucro, inimigos trabalhando, cuide bem saúde.
IRE-Alegria, encanto, felicidade, grandeza, sucesso, inicio.
IBI- Nervosismo, preguiça, altos e baixos.

9- Búzios abertos: Osa- Iya mi, Oya, Yemọja
Falta de coragem, fuga oposição, viagens, pessoa amedrontada, bons administradores, mudanças inesperada, transtornos, sono ruim, problemas espirituais, agradar Ṣàngó, Iya mi para ter uma eventual solução positiva contra os inimigos.
IRE-Viagens, Espiritualidade, Família, mudança.
10- Búzios abertos: Òfún- Oxalá
Boa fortuna, ter paciência com certo sacrifício o sucesso é garantido, pessoas generosas e sábias, dificuldade de respirar, agradar Iya mi , Olókun, boas viagens, pessoa tem que agradar os pobres.
IRE-Vitória, determinação, realização, paciência.
IBI- Lentidão, desânimo, fraqueza, fragilidade.
11 Búzios abertos: -Okanla ou Òwónrín- Oya, Egúngún
A importância dos ebós enfatizada, tomar bori, respeitar os mais velhos, cuidar viagens negativas agradar Egúngún.
IRE-Pressa, poder, força, Otimismo, realização.
IBI- Perigo, acidente, violência.

12- Búzios abertos: Ejila - Ṣàngó.
Premunição, clarividência, vida longa, prosperidade, promoção no trabalho, os mistérios da vida revelados, ter cuidado com viagens.
IRE-Emprego, dinheiro, negócios, política.
IBI- Avareza processos, loucura.

13- Búzios abertos: Metala- Soponnan, ìyá mi, Nana.
Preocupações, ter moderação, cercado de pessoas ruins, não pode contar com a família, nem com amigos, vai colher o que plantou, agradar Ori, pessoas com ciúme, agradar Ifa e Ògún.
IRE-Espiritualidade
IBI- Perigos, doenças, feitiços, morte.

14- Búzios abertos: Merinla- ìyá mi, Obalúwàiyé
 Persistência, pessoa vigorosa, com tratamento rude, questões ligadas a filhos, agradar Egungun, e Òrìsà nla, complacência, deve escutar os pais, e os mais velhos, imprudentes, teimosos, confusos, cuidar Orí, e Ifá.
IRE- Espiritualidade, vidência, intuição.
IBI- Doenças, fase negativa miséria.

15- Búzios abertos: Medogun, Èsu, Olóòkún, Òkè, Yemọja
Paz mental, bom caráter ,bons negócios, sucesso na arte de comprar e vender, sentimental, bom, cuidar de Èsu, cuidar esgotamento, tirar tempo para descansar.
Agradar Ògún, Yemọja e Ifá.
IRE- A capacidade de recomeçar rapidamente.
IBI- A falta de Iniciativa, desilusão, decepção.

16- Búzios abertos: Mérìndilogun- Ifá, Soponnan, sociedade Ogboni.
Humildade, intriga dos inimigos, pessoa com cabeça dura, perda de oportunidade, todos os filhos de Irete devem ser iniciados em Ifá, cuidar Orí, humilhação, estresse emocional, fatiga ,impaciência, agradar Soponna.
IRE-Ligação com a espiritualidade, renascimento
IBI-O fracasso, a morte.

0-Nenhum búzio aberto Opira ou àdakadekè
Iniciação em ifá, Ogboni, comida
IBI- Falta de coragem, duvidas depressão.
 a terra, morte.

Ibò-búzios ou osso e demais objetos a serem usados.

Existe uma caída predominante que identifica sempre a mão direita...

OBS: Para o sistema do ibò (ver se ire ou ibi) usando a ordem .
-Se apurar Ibi no caso de ajoguns.
Morte, doença, perda, confusão.
-Se for Ire apurar o tipo de Ire
Vida longa, filhos, dinheiro, etc.

Observação: Por razões obvias muitos dos detalhes do mecanismo foram retirados desse texto, a razão desse trabalho é a divulgação, as pessoas que quiserem aprender devem procurar os seus iniciadores.

Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola.