quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Ifá no Brasil (3º parte)

Ifá Brasil


(3º parte)

Autor: Olúwo Ifagbaiyin Agboola

Nessa terceira parte do texto vamos abordar o impacto das atitudes negativas de alguns iniciados no Ifá, yorubanos e de outros nigerianos que não são iniciados e que da mesma forma cometem crimes contra a nossa religião e os nossos antepassados.

Enquanto meia dúzia de bons Bàbáláwos iniciaram algumas centenas de pessoas no Ifá, dezenas de marginais corruptos usando a rede social acessam milhões de vítimas criando assim uma imagem terrível para a nossa religião.

O interesse pelo dinheiro e o espirito corrupto que envolve a grande parte dos nigerianos que por aqui chegaram terminaram prejudicando a imagem do Ifá com raras exceções.

A verdade é que pouco foi oferecido e muito foi extraído de um povo que ansiava por informação sobre a sua fé.

A transferência de informação deveria ter acontecido progressivamente para que em um futuro o Brasil tivesse seus próprios Bàbáláwos.

Ao contrário as informações trazidas para o Brasil sobre o Ifá nos últimos anos na grande maioria das vezes foram divulgadas por pessoas que visavam exclusivamente obter dinheiro se dizendo Bàbáláwo. Eles não trouxeram informações que possam acrescer ao conhecimento aqui deixado pelos escravos que chegaram no passado. O conhecimento que foi passado é muito pequeno e em alguns casos obriga aqueles que de fato querem aprender Ifá a se submeterem a extorsão e a exploração financeira se tornando vítimas do comercio do sagrado.

 Nesse mesmo período a crise mundial e a crescente falta de recursos na Nigéria impulsionaram a venda de títulos, segredos foram violados e acessos foram permitidos.

O lamentável é que para impulsar o comercio, os nomes de antepassados ilustres tenham sido usado caracterizando o desrespeito pela religião tradicional fundamentada na relação familiar.

Infelizmente esses fatos acontecem dando espaço á duvidas e na atualidade encontrar um Bàbáláwo yoruba que conheça a palavra ética ficou quase impossível.

O comportamento dos supostos sacerdotes não afetou somente as vítimas em outros países, os jovens nigerianos que observam esses senhores devem ter vergonha dos exemplos dados por eles, e isso certamente terá implicações afastando os da religião tradicional.

Se considerarmos os diversos fatores que implicam na falta de interesse dos jovens Yorùbás pela religião de òrìşà, a conduta escusa exposta na rede social de alguns Bàbálóòrìşà e Bàbáláwos nigerianos certamente influenciam as decisões criando um impacto negativo.

Independente da discussão que está acontecendo no território Yorùbá sobre a falta de interesse dos jovens pelo Ifá, no Brasil o Ifá está se desenvolvendo rapidamente e a cada dia se multiplica o número de iniciados de todas as idades. Porém independente da nacionalidade os alguns jovens estão interessados em atividades que proporcionem um retorno financeiro rápido. E o longo período de estudos necessário para a formação de bons sacerdotes afasta os jovens que buscam resultados imediatos em uma sociedade capitalista.

Por outro lado o debate deve ser estabelecido entorno da realidade racista de alguns sacerdotes tradicionais yorubanos que não se envergonham de suas posturas preconceituosas.

Os fatos não podem ser omitidos, algumas pessoas em nosso país desprezam os Bàbáláwos brasileiros por considerar que os sacerdotes de Ifá da Nigéria são superiores.

Por outro lado os nigerianos não veem com bons olhos o avanço do Ifá no Brasil porque o número de jovens Yorùbás interessados em Ifá está sendo bastante reduzido em seus país.

Acredito que essa pressão bilateral vai estimular os Bàbáláwos brasileiros a cada vez mais se dedicarem aos estudos da Religião tradicional Yorùbá.

Graças a Olódùmarè, pessoas honradas como Alafin de Oyo estão combatendo esses a comercialização de títulos que prejudicam a religião tradicional.

Em breve muitos yorubanos vão saber a verdade sobre as viagens de seus compatriotas ao exterior que disfarçam a sua postura corrupta com as vestes da impunidade.

Graças a Olódùmarè nem tudo está perdido, somente uma minoria dos brasileiros e dos Yorùbás são corruptos.

O que alguns constroem com tanto carinho com suas mãos outros destroem com seus pés, não se pode ocultar que existe uma minoria de Bàbálóòrìşà e Bàbáláwos Yorùbás radicais que acreditam que somente eles podem ter acesso ao saber de Ifá.

Essa atitude de uma minoria caracteriza o crime de racismo e nos faz refletir sobre a seguinte questão (o nosso dinheiro é bom, mas o nosso saber é inferior).

Aproveitando a data de hoje que comemora a independência do Brasil gostaria de convidar os iniciados em Ifá brasileiros e Yorùbás para analisarem a seguinte questão:

Porque algumas famílias que praticam o Ifá tradicional Yorùbá que já estão fazendo um trabalho de divulgação do Ifá no Brasil á mais de trinta anos ainda não deram autonomia para seus Bàbáláwos fazerem itefá no Brasil?

Será que os iniciados brasileiros não tem capacidade para desenvolver essa atividade?
Será que em quase quarenta anos nessas famílias não surgiu um brasileiro que possa ser um bom Bàbáláwo?

Será que se houvesse a preocupação de formar bons sacerdotes da religião tradicional por parte dessas famílias Bàbáláwos tão capacitados como os Bàbáláwos nigerianos não existiriam no Brasil?

Felizmente para a sorte dos brasileiros não são todas as famílias que adotam essas práticas.

Alguns Bàbáláwos Yorubanos tiveram a preocupação de iniciar e treinar Bàbáláwos brasileiros e esse processo aos poucos está contribuindo para o reconhecimento do Ifá nacional. Os brasileiros não pretendem ser independentes, mas sim querem disfrutar de uma autonomia que de tal forma permita que em todas as famílias haja a permissão de fazer iniciações no território nacional, pois só assim o Ifá no Brasil alcançara a sua verdadeira missão.

Nos resta rezar a Òrúnmìlá para que esses senhores que aportam em nosso país vindo do território Yorùbá tenham uma crise de consciência que os conduza a uma reflexão da responsabilidade daqueles que acessaram o saber.


A verdade é que pela vontade de Olódùmarè, vários òrìsàs foram trazidos para o Brasil entre eles Òrúnmìlá.