quinta-feira, 21 de maio de 2015

Orixás direitos e deveres


Autor: Babalawo Ifagbaiyin

Em nossa casa em Salvador semanalmente aparece um grupo de saguis hoje fui colocar bananas para eles e enquanto colocava alimentos para eles me ocorreu escrever esse texto sobre a fé, os orixás e os direitos e deveres dos iniciados e sacerdotes.

Quando eu coloco todas as manhas bananas para os macaquinhos é com a esperança que eles apareçam em nossa casa, mas em razão das chuvas eles pouco nos visitam, mesmo assim eu coloco alimento todos os dias, parece sem sentindo, mas como é que vou adivinhar qual é o dia que eles vão aparecer em nossa casa, então sigo colocando alimento todos os dias.

A mesma coisa acontece quando falamos de fé você não vê o orixá e nem sabe que dia ao certo ele vai atuar em sua vida, mas você reza todos dias e cuida dele com carinho e respeita partindo do princípio que ele também está cuidando de você.

Muitas vezes aos nossos olhos ele demora para interferir e nos auxiliar em dificuldades que temos, mas na verdade o orixá é que sabe a hora certa para interferir e nos auxiliar.

O orixá constantemente interfere em nossas vidas, mas nós não temos condições de perceber o que está acontecendo em nossa volta, isso porque somos seres imperfeitos, nos preocupamos com as contas, com as aparências, com o que adquirimos, com as roupas, com o carro, com a beleza da casa e muitas vezes não percebemos as mudanças do mundo espiritual.

Baseado nisso colocar na internet um texto que a princípio vamos chamar de direitos e deveres, não é nenhuma citação que lembre o período da ditadura, quando os professores de moral e cívica insistiam nos direitos e deveres nos cidadãos brasileiros.

Para começar vamos abordar desde a entrada no iniciado no ile orixá:

- É dever do iniciado cumprimentar ao entrar na casa de orixá os orixás para só depois cumprimentar o sacerdote e membros da família.

- É direito do iniciado entrar nos quartos dos orixás para saudar os orixás e rezar, é dever do sacerdote permitir a entrada e saudar e respeitar o orixá do iniciado, caso ele incorpore.

O procedimento correto é colocar o orixá para dentro de um dos quartos, colocar uma roupa adequada, retirar os calçados e levar o orixá para saudar o ojúbo do orixá dono da casa, para só depois saudar o sacerdote.

- É dever do iniciado auxiliar nas atividades na casa de orixá, assim como limpeza e conservação de todas as instalações.

- É um direito do iniciado em caso extremo ser atendido em consulta mesmo que não disponha naquele momento de dinheiro.

- É dever do iniciado auxiliar na compra de materiais para a manutenção da casa.

- É dever do sacerdote auxiliar os iniciados que não disponham de materiais para a manutenção dos igbas de seus orixás.

- É um direito dos iniciados fazerem as refeições na casa de orixá durante o período que eles estejam em rituais e cerimonias.

- Também é de bom tom que o iniciado só se sirva de alimento durante as refeições depois que o sacerdote tenha se servido.

- É um dever dos iniciados informar caso resolvam participar de alguma cerimônia religiosa em outra casa, sendo assim é um dever do sacerdote orientar seus iniciados de como devem se comportar, em visitas a outros ile orixás.

- É um dever do sacerdote passar ensinamentos para os seus iniciados, também é um dever do sacerdote interferir quando necessário em benefício do iniciado.

- É um dever do iniciado respeitar e honrar a sua família e a casa que foi iniciado.
Sendo assim vamos observar as questões acima:

Primeiramente todo o sacerdote do ponto de vista lógico não é o dono da casa de orixá, o dono da casa é o orixá, então é ele que deve ser cumprimentado primeiro.

Quando o iniciado entra no terreno do ile orixá deve primeiramente se dirigir ao exu da casa e pedir permissão para entrar, depois se necessário for deve trocar de roupa e cumprimentar o orixá dono da casa, para só depois cumprimentar o sacerdote principal, após isso cumprimenta os demais, seguindo a hierarquia.

O cumprimento ao sacerdote que iniciou o iniciado deve ser com o ato de colocar a cabeça no chão, (foribalè) já para os demais essa reverencia pode ser ou não substituída por uma saudação.

Existe algumas exceções em algumas casas é exigido o mesmo tratamento dispensado ao sacerdote para o ojúbona do iniciado.

Os iniciados de sexo feminino devem se vestir de acordo com as cerimônias usando saia e pano da costa assim como o pano de cabeça, é dever dos iniciados se vestirem de forma adequada ao ambiente da casa de orixá sendo vedado o uso de bermudas, shorts e roupas cavadas.

- É dever dos iniciados de sexo masculino auxiliar as iniciadas nos trabalhos que exijam uma maior força física e também não é nenhum demérito auxiliar em atividades teoricamente femininas.

- É um dever dos iniciados do sexo masculino se afastarem dos ambientes que envolvam banhos e rituais ou cerimonias onde as iniciadas de sexo feminino estejam sem roupa.

- É um direito das iniciadas de sexo feminino exigirem ser banhadas por pessoas do mesmo sexo.
No período de iniciações pressupondo que o novo iniciado não disponha de condições financeiras para as compras referentes a sua iniciação é dever dos iniciados mais antigos e do sacerdote contribuírem com trabalho e dinheiro facilitando assim a situação do necessitado.

Em caso de visita de membros de outras famílias é dever do sacerdote abrir os quartos dos orixás para que sejam saudados, também é dever do sacerdote e dos iniciados receber as visitas com o máximo de respeito.

Obs: Para um melhor entendimento vamos definir nesse texto assentamento coletivo como o ojúbo e assentamento particular como igbá.

- É dever de todos os iniciados participar do òsè dos ojúbos do ile orixá, assim como é um direito do iniciado desfrutar de silêncio durante o òsè em seus igbas para que possa fazer suas orações.

*Òsè o dia que completa uma semana Yoruba, referente período de quatro em quatro dias, òsè primeiro dia da nova semana, para nossa compreensão quinto dia depois do primeiro òsè.

Mesmo os orixás tendo sido assentados para o sacerdote com exceção do seu orixá principal quase todos os assentamentos devem ser tratados como ojúbo, salvo Orunmila, o exu pessoal, Iya mi e Egungun orixás esses individuais, (igbá) não confundir com assentamento coletivo de Egungun e Igbàlè ou ojúbo.

O òsè dos ojúbos deve ser feito pelos iniciados que já tem permissão do sacerdote para esse ritual, é impossível que o sacerdote mantenha todos os orixás da casa limpos e tratados sozinho, a participação de todos os membros é fundamental para que se estabeleça o conceito de família.

O igbá do orixá do iniciado é de propriedade dele é dever do sacerdote entregar o igbá para o iniciado que deve providenciar um local adequado para manter o assentamento.

Jamais o assentamento do orixá deve ser retido na casa de orixá por falta de qualquer tipo de pagamento, os pagamentos são feitos por rituais e não por igbá, o assentamento do orixá jamais poderá ser usado como garantia de um pagamento futuro.

- É dever do iniciado antecipadamente solicitar ao sacerdote autorização para levar amigos na casa de orixá que poderá estar em cerimônias não permitidas para visitantes.

- É um direito do iniciado solicitar ao sacerdote que ele ministre cerimônias e rituais em caráter privado, a terceirização dos rituais e a delegação de autoridade pode ser contestada em caráter pessoal. É um dever do sacerdote corresponder à confiança depositada em suas mãos, não devendo indicar pessoas estranhas ao iniciado em rituais e cerimônias secretas.

Exemplo: Os Boris devem ser realizados pelo principal sacerdote da casa de orixá e jamais por outros membros mesmo aqueles com conhecimento comprovado.

Recomenda-se as pessoas em visita a casa de orixá que mantenham o habito de levar para os orixás agrados como obi, orobo, esteiras, dendê, mel, gim, frutas e flores.

A manutenção da casa de orixás é dispendiosa e deve ser considerada como responsabilidade de todos os membros.

Quanto a manutenção da fé ela não tem rituais específicos ou uma formulas secretas, os rituais podem ser ensinados, mas a crença ela é desenvolvida sem o controle pré estabelecido.

Acreditamos ou desenvolvemos a fé com o passar do tempo, mas jamais a fé vai ser instruída, os sentimentos afloram dispensando justificativas, o orixá opera em nós o milagre de acreditar naquilo que não estamos vendo, mas que podemos sentir.

A força do orixá transforma, tranquiliza e fortalece o interior do iniciado sem que ele perceba só o tempo atesta a evolução e o desenvolvimento espiritual. Não existe a possibilidade de pular etapas, a vida se desenvolve dia após dia.

Vou continuar colocando bananas para os saguis todos os dias mesmo que eles só venham uma ou duas vezes por semana.