quarta-feira, 27 de maio de 2015


Iniciação em Ifá

Itefa, começo meio e fim.

Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola
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Quando se fala de iniciação em ifá estamos falando de um dos momentos mais importantes da vida espiritual de qualquer pessoa, a cerimonia do itefa é constituído de cinquenta e quatro atos que tem como finalidade principal esclarecer as dúvidas sobre o destino do iniciado.

O Itefa esclarece facilitando o dia a dia proporcionando informações para que o iniciado esteja alinhado com o destino por ele escolhido antes do seu nascimento.

A iniciação em ifá é muito discutida por pessoas que não foram iniciadas, então o que dizer desses comentários, o ideal seria que as pessoas escrevessem sobre aquilo que de fato elas conhecem.

A preparação de um itefa normalmente leva vários dias, a compra dos animais e do material que será utilizado na iniciação é orientada pelo Oluwo, o critério no momento da compra dos materiais sempre deve ser que sobre material, ao invés de faltar, a sobra facilita assim as indicações ainda desconhecidas no decorrer dos rituais.

 Obs: Quando o material é comprado em parte antecipadamente, o assentamento do orixá ire é facilitado após a indicação do odu de nascimento, assim como a preparação do igba ori se necessário.
Parte da lista de um Itefa:

2-bodes
1-cabra
6- galinhas
6-galos
20-igbins
4-pombos
1-galinha de angola
50-obi
100-orobo
10-efun
30-osun
2-eku eda
4-eja aro
Tecido branco para roupa 10m.
Ikin em quantidade a ser definida pelo Oluwo.
10- iyerosun
10-odidi atare
1-vasilha para Ifá
1-Vasilha para Exu.
500g de búzios
1-kg de Sabão da costa
1 –Idé Ifá
1-yangui
1-ileke Ifá
8-litros de gim ou vodca
6- litros de dendê
1-litro de mel
1-cabaça

Obs: Não vamos fornecer a lista completa nesse texto por acreditar que seja desnecessário a divulgação. A parte da lista divulgada já vai dar uma ideia para o leitor, ou seja, isso vai auxiliar para que ele não seja enganado por pessoas que se dizem sacerdotes.

 Ainda considerando a compra dos materiais com fartura, é importante salientar que antes do início do itefa é feito uma consulta a Orunmila que vai orientar os ebos que antecedem o itefa, (sempre é feito ebo riru) e outros ebos.

1-No início do itefa existem algumas cerimonias que não devem ser divulgadas, um exemplo é o primeiro ato que jamais poderá ser revelado, essa cerimônia acontece em uma mata.  Esse ato é dirigido pelo Oluwo mas podem participar o ojugbona do iniciado.

2-Preparação do caminho por onde vai passar o iniciado com ofertas a terra em número ímpar de um lado do caminho e em outro em número par.

3-Preparação do sabão de Opa Osun.
4- Alimentar opa Osun.
5-Consulta a Ifá para a entrada do iniciado
6-Ebó de entrada.
7-Preparação das folhas para a entrada do igbodu.
8-preparação do Yangui do Exu do iniciado.
9-Preparação do material que será utilizado no itefa e sua conferencia.
10-Preparação das aves que devem ser carregadas pelo iniciado.
11-Inicio da caminhada em direção ao igbodu.O Oluwo segurando em sua mão Opa Osun começa as orações louvando os orisas, é feita a apresentação do novo membro da família para os antepassados. 

Após a oração inicial através de Opa Osun é feita a invocação dos antepassados pedindo permissão para conduzir o awo, até o igbodu.

Obs :Nesse texto vamos para facilitar a compreensão nomearemos o iniciado como awo.

O awo será conduzido em uma caminhada precedida por seu Oluwo, a sua Iya apetebi e seu ojugbona, a Iya apetebi carrega o yangui de Exu em sua cabeça, enquanto o awo que está vendado carrega os animais e todos os materiais para a iniciação.

Obs: A Iya apetebi normalmente é a esposa do Bàbàláwo, embora nesses rituais a figura da Iya apetebi possa ser representada por uma outra mulher, que não seja a esposa do Bàbàláwo.

A Iya apetebi não necessita ser iniciada para participar dos atos iniciais do itefa, como os descritos até o decimo quinto ato que normalmente são públicos.

12-Na entrada do igbodu do lado esquerdo é feita a consulta a Iya Odu antes da entrada do awo para o igbodu com obi e orobo. Do lado direito é colocada a vasilha contendo o Yangui do Exu que será assentado para o iniciado que permanece vendado.

 13-Retirada da venda.
Alguidar com agua um omi ero para lavar olhos de todos que vão entrar no igbodu, nesse alguidar será preparado as folhas de tètè, òdóndú, rínrín e um igbin, tc.
14-O  material do itefa é levado para dentro do igbodu.
15- O Opa Osun é fixado na terra dentro do igbodu para testemunhar todo processo.
16-Alimentar Iya Odu para pedir permissão para começar os rituais dentro do Igbodu.
17- Raspagem da cabeça do awo

Obs: Os atos do decimo ao vigésimo não podem ser divulgados.

21- Preparação do solo para extrair o odu de nascimento, o awo senta atrás do Oluwo segurando na cintura ou nos ombros ou nas costas de seu Oluwo.

Obs: Os atos do vigésimo segundo ao vigésimo terceiro não podem ser divulgados.

24- Ritual aos pés de Opa Osun o odu de nascimento do iniciado será revelado.

Obs: Somente após saber o odu é que os ikins serão alimentados, evidentemente porque o assentamento de Orunmila é feito com o odu do iniciado, cabe dizer que anteriormente a isso existe a preparação dos ikins, porém é importante ressaltar que o Exu do iniciado assim como como o seu iba ori só serão alimentados a partir da apuração do odu.

Obs: No momento que é apurado o odu do awo se ele vier em ibi ele deverá ser transformado em ire com o ebo riru antes do awo levantar da esteira.

Ori, Exu pessoal e Orunmila são assentados com o odu de nascimento extraído no itefa, se não for assim o compromisso de cumprir o destino escolhido pelo iniciado antes de nascer jamais será realizado.

Se o awo já tiver Exu assentado antes do Itefa esse não pode ser aproveitado para o itefa, nem a vasilha de Orunmila usada no itefa pode ser aproveitada para o itefa. A vasilha anterior assim como o Exu foram preparados com outro odu que não o odu de nascimento do awo assim como ileke ifá que deve ser novo.

Obs: Os atos do vigésimo ao vigésimo sexto, não podem ser divulgados.

27-Banho do awo.
28-Pintura do Awo

Obs: Os atos vigésimo nono ao trigésimo quarto não podem ser divulgados.

35-No segundo dia, o iniciado recebe mais informações sobre o seu odu, tomando conhecimento de seus ewos e recebendo o seu nome.

Obs: Os atos do trigésimo sexto ao quadragésimo não podem ser divulgados.

41-No terceiro dia o Oluwo com Opa Osun, lidera uma nova caminhada para levar o carrego do iniciado para o Rio, na volta do carrego Opa Osun, será fixado na terra, agora em frente à casa.

Obs: Os atos do quadragésimo segundo ao quadragésimo terceiro não podem ser divulgados.

44-Odu pada odo, na volta do rio é feito uma nova consulta a Orunmila que deve ser seguida dos ebos correspondentes ao novo caminho do awo, (quase sempre é feito ebo riru).
48-Ainda no terceiro dia o ifá será alimentado novamente.

Obs: Os atos do quadragésimo nono não podem ser divulgados.

 50-A iniciada dança, canta e festeja o seu odu durante a sua apresentação para o egbe.

Obs: Os atos do quinquagésimo primeiro não podem ser divulgados.

52-Feita as cerimonias do terceiro dia, do sétimo dia e do decimo sétimo dia, diante de Opa Osun é retirado o ekodide.

Obs: No ato citado acima quando o itefa é feito para Babalorisa é diferente do que é feito para um Babalawo.

A retirada do ekodide encerra o itefa que em razão do odu poderá ou não dar início ao itelodu, com o início do itelodu as cerimonias tem um novo caráter com Iya odu reconhecendo seu filho, esse ato é o quinquagésimo, enquanto a preparação do solo do início a um processo e o reconhecimento de Iya odu encerra a feitura.

Obs: No ato citado acima quando o itefa é feito para Iyanifa é diferente do que é feito para um Bàbàláwo.

Tanto nos casos de Babalawos s como Iyanifas e omo orisas as cerimonias podem levar de três a dezesseis dias.

Babalawos e Iyanifas e sacerdotes do culto de orisa tem a sua cabeça raspada nessas cerimonias.
Das mais de cinquenta cerimonias que constitui todo processo até o itelodu duas são diferentes para omo orixá e uma é diferente para Iyanifa.

54-Em caso de Itelodu, o awo será reconhecido por Iya Odu.

Todos esses ensinamentos que estou divulgando aqui foram recebidos de meu Oluwo Oyeniyi Awolola Agboola e do Araba Awodiran Agboola, os rituais de iniciação em nossa casa reproduzem na integra os rituais de iniciação de nossa família na cidade de Lagos Nigéria.

*Qualquer pessoa com um pouco de bom senso vai entender que por razões obvias divulguei aqui somente vinte e sete atos dos cinquenta e quatro atos que constituem a cerimonia de um itefa e um Itelodu.

O importante para mim é divulgar em principio informações que possibilitem as pessoas em geral ter uma noção do que consiste um itefa.

 Considerando que ultimamente tem aumentado muito o número de pessoas enganadas por falsos sacerdotes.

Um Bàbàláwo ou uma Iyanifa não incorporam espíritos.
 Um Bàbàláwo ou uma Iyanifa não comercializam materiais de asé.
Um Bàbàláwo ou uma Iyanifa só iniciam as pessoas depois de vários anos de estudo.
Um Bàbàláwo ou uma Iyanifa só iniciam em Ifá com a autorização de seu Oluwo.

Um Bàbàláwo ou uma Iyanifa não mentem e não enganam as pessoas, esses sacerdotes devem ser modelos de retidão e bom caráter para as suas comunidades.

Um Bàbàláwo ou uma Iyanifa não usam drogas e não podem ter envolvimento com coisas que constituam uma infração as leis de seu país.

Orunmila não pactua com traidores.

O awo que trilha o caminho da verdade jamais está sozinho, a minha verdade pode lhe incomodar muito, mas tenha a certeza que a sua mentira me incomoda muito mais. Eu não sou o dono da verdade mas também não sou um mentiroso, sendo assim Ajagunmale é aquele que vai nos julgar.

Esse texto foi motivado pela indignação de saber que pessoas dizem ser aquilo que na verdade elas não são, existem muitas pessoas se beneficiando do desconhecimento do público em geral, usando o nome de Orunmila em seu próprio benefício.






quinta-feira, 21 de maio de 2015

Orixás direitos e deveres


Autor: Babalawo Ifagbaiyin

Em nossa casa em Salvador semanalmente aparece um grupo de saguis hoje fui colocar bananas para eles e enquanto colocava alimentos para eles me ocorreu escrever esse texto sobre a fé, os orixás e os direitos e deveres dos iniciados e sacerdotes.

Quando eu coloco todas as manhas bananas para os macaquinhos é com a esperança que eles apareçam em nossa casa, mas em razão das chuvas eles pouco nos visitam, mesmo assim eu coloco alimento todos os dias, parece sem sentindo, mas como é que vou adivinhar qual é o dia que eles vão aparecer em nossa casa, então sigo colocando alimento todos os dias.

A mesma coisa acontece quando falamos de fé você não vê o orixá e nem sabe que dia ao certo ele vai atuar em sua vida, mas você reza todos dias e cuida dele com carinho e respeita partindo do princípio que ele também está cuidando de você.

Muitas vezes aos nossos olhos ele demora para interferir e nos auxiliar em dificuldades que temos, mas na verdade o orixá é que sabe a hora certa para interferir e nos auxiliar.

O orixá constantemente interfere em nossas vidas, mas nós não temos condições de perceber o que está acontecendo em nossa volta, isso porque somos seres imperfeitos, nos preocupamos com as contas, com as aparências, com o que adquirimos, com as roupas, com o carro, com a beleza da casa e muitas vezes não percebemos as mudanças do mundo espiritual.

Baseado nisso colocar na internet um texto que a princípio vamos chamar de direitos e deveres, não é nenhuma citação que lembre o período da ditadura, quando os professores de moral e cívica insistiam nos direitos e deveres nos cidadãos brasileiros.

Para começar vamos abordar desde a entrada no iniciado no ile orixá:

- É dever do iniciado cumprimentar ao entrar na casa de orixá os orixás para só depois cumprimentar o sacerdote e membros da família.

- É direito do iniciado entrar nos quartos dos orixás para saudar os orixás e rezar, é dever do sacerdote permitir a entrada e saudar e respeitar o orixá do iniciado, caso ele incorpore.

O procedimento correto é colocar o orixá para dentro de um dos quartos, colocar uma roupa adequada, retirar os calçados e levar o orixá para saudar o ojúbo do orixá dono da casa, para só depois saudar o sacerdote.

- É dever do iniciado auxiliar nas atividades na casa de orixá, assim como limpeza e conservação de todas as instalações.

- É um direito do iniciado em caso extremo ser atendido em consulta mesmo que não disponha naquele momento de dinheiro.

- É dever do iniciado auxiliar na compra de materiais para a manutenção da casa.

- É dever do sacerdote auxiliar os iniciados que não disponham de materiais para a manutenção dos igbas de seus orixás.

- É um direito dos iniciados fazerem as refeições na casa de orixá durante o período que eles estejam em rituais e cerimonias.

- Também é de bom tom que o iniciado só se sirva de alimento durante as refeições depois que o sacerdote tenha se servido.

- É um dever dos iniciados informar caso resolvam participar de alguma cerimônia religiosa em outra casa, sendo assim é um dever do sacerdote orientar seus iniciados de como devem se comportar, em visitas a outros ile orixás.

- É um dever do sacerdote passar ensinamentos para os seus iniciados, também é um dever do sacerdote interferir quando necessário em benefício do iniciado.

- É um dever do iniciado respeitar e honrar a sua família e a casa que foi iniciado.
Sendo assim vamos observar as questões acima:

Primeiramente todo o sacerdote do ponto de vista lógico não é o dono da casa de orixá, o dono da casa é o orixá, então é ele que deve ser cumprimentado primeiro.

Quando o iniciado entra no terreno do ile orixá deve primeiramente se dirigir ao exu da casa e pedir permissão para entrar, depois se necessário for deve trocar de roupa e cumprimentar o orixá dono da casa, para só depois cumprimentar o sacerdote principal, após isso cumprimenta os demais, seguindo a hierarquia.

O cumprimento ao sacerdote que iniciou o iniciado deve ser com o ato de colocar a cabeça no chão, (foribalè) já para os demais essa reverencia pode ser ou não substituída por uma saudação.

Existe algumas exceções em algumas casas é exigido o mesmo tratamento dispensado ao sacerdote para o ojúbona do iniciado.

Os iniciados de sexo feminino devem se vestir de acordo com as cerimônias usando saia e pano da costa assim como o pano de cabeça, é dever dos iniciados se vestirem de forma adequada ao ambiente da casa de orixá sendo vedado o uso de bermudas, shorts e roupas cavadas.

- É dever dos iniciados de sexo masculino auxiliar as iniciadas nos trabalhos que exijam uma maior força física e também não é nenhum demérito auxiliar em atividades teoricamente femininas.

- É um dever dos iniciados do sexo masculino se afastarem dos ambientes que envolvam banhos e rituais ou cerimonias onde as iniciadas de sexo feminino estejam sem roupa.

- É um direito das iniciadas de sexo feminino exigirem ser banhadas por pessoas do mesmo sexo.
No período de iniciações pressupondo que o novo iniciado não disponha de condições financeiras para as compras referentes a sua iniciação é dever dos iniciados mais antigos e do sacerdote contribuírem com trabalho e dinheiro facilitando assim a situação do necessitado.

Em caso de visita de membros de outras famílias é dever do sacerdote abrir os quartos dos orixás para que sejam saudados, também é dever do sacerdote e dos iniciados receber as visitas com o máximo de respeito.

Obs: Para um melhor entendimento vamos definir nesse texto assentamento coletivo como o ojúbo e assentamento particular como igbá.

- É dever de todos os iniciados participar do òsè dos ojúbos do ile orixá, assim como é um direito do iniciado desfrutar de silêncio durante o òsè em seus igbas para que possa fazer suas orações.

*Òsè o dia que completa uma semana Yoruba, referente período de quatro em quatro dias, òsè primeiro dia da nova semana, para nossa compreensão quinto dia depois do primeiro òsè.

Mesmo os orixás tendo sido assentados para o sacerdote com exceção do seu orixá principal quase todos os assentamentos devem ser tratados como ojúbo, salvo Orunmila, o exu pessoal, Iya mi e Egungun orixás esses individuais, (igbá) não confundir com assentamento coletivo de Egungun e Igbàlè ou ojúbo.

O òsè dos ojúbos deve ser feito pelos iniciados que já tem permissão do sacerdote para esse ritual, é impossível que o sacerdote mantenha todos os orixás da casa limpos e tratados sozinho, a participação de todos os membros é fundamental para que se estabeleça o conceito de família.

O igbá do orixá do iniciado é de propriedade dele é dever do sacerdote entregar o igbá para o iniciado que deve providenciar um local adequado para manter o assentamento.

Jamais o assentamento do orixá deve ser retido na casa de orixá por falta de qualquer tipo de pagamento, os pagamentos são feitos por rituais e não por igbá, o assentamento do orixá jamais poderá ser usado como garantia de um pagamento futuro.

- É dever do iniciado antecipadamente solicitar ao sacerdote autorização para levar amigos na casa de orixá que poderá estar em cerimônias não permitidas para visitantes.

- É um direito do iniciado solicitar ao sacerdote que ele ministre cerimônias e rituais em caráter privado, a terceirização dos rituais e a delegação de autoridade pode ser contestada em caráter pessoal. É um dever do sacerdote corresponder à confiança depositada em suas mãos, não devendo indicar pessoas estranhas ao iniciado em rituais e cerimônias secretas.

Exemplo: Os Boris devem ser realizados pelo principal sacerdote da casa de orixá e jamais por outros membros mesmo aqueles com conhecimento comprovado.

Recomenda-se as pessoas em visita a casa de orixá que mantenham o habito de levar para os orixás agrados como obi, orobo, esteiras, dendê, mel, gim, frutas e flores.

A manutenção da casa de orixás é dispendiosa e deve ser considerada como responsabilidade de todos os membros.

Quanto a manutenção da fé ela não tem rituais específicos ou uma formulas secretas, os rituais podem ser ensinados, mas a crença ela é desenvolvida sem o controle pré estabelecido.

Acreditamos ou desenvolvemos a fé com o passar do tempo, mas jamais a fé vai ser instruída, os sentimentos afloram dispensando justificativas, o orixá opera em nós o milagre de acreditar naquilo que não estamos vendo, mas que podemos sentir.

A força do orixá transforma, tranquiliza e fortalece o interior do iniciado sem que ele perceba só o tempo atesta a evolução e o desenvolvimento espiritual. Não existe a possibilidade de pular etapas, a vida se desenvolve dia após dia.

Vou continuar colocando bananas para os saguis todos os dias mesmo que eles só venham uma ou duas vezes por semana.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

A literatura sobre orixá 


Autor: Babalawo Ifagbaiyin

O ser humano tem uma capacidade incrível de criar e inovar, é louvável o avanço que percebemos nas mais diversas áreas, porem temos que dizer que quando se fala de orixá, a criatividade somada a falta de informações geram grandes prejuízos ao saber.

Desde de 1830 aproximadamente escritores com boas e más intensões escrevem sobre os orixás, é surpreendente a quantidade de absurdos que foram escritos ao longo do tempo.

Eu sempre digo para os nossos Babalawos “estudar é preciso” mas se você for estudar na internet praticamente está jogando o tempo fora, em quase a totalidade dos casos que acompanho o awo perde muito tempo com a literatura errada.

Costumamos dizer que o papel aceita tudo e cabe a quem lê identificar o que é bom e o que é ruim, o número de pessoas que escrevem sobre orixá cada dia aumenta mais e o fato é que muitos nem são iniciados e se atrevem a escrever.

Vejo pessoas que não são iniciadas em ifá escreverem sobre ifá, então gostaria de citar alguns dos grandes equívocos escritos:

- 1884, Baudin sugere que algumas mulheres velhas se diziam feiticeiras somente porque o que escritor estava perguntando, mas na verdade ele não acreditava nesses relatos.

- 1933, Nadel escreveu que já não existia mais mulher cultuando Iya mi.

- 1953, Debrunner diz que ação combinada dos missionários e professores destruíram a antiga religião de orixá.

- 1940, Willians escreve que os caçadores de bruxas faziam com que as mulheres confessassem cultuar Iya mi, escreve mais ainda, diz que elas eram convencidas a abandonar o culto por algumas moedas.

- 1884, Baudin diz que o pássaro de Ìyà mi é uma coruja.

-  1943, Maupoli diz que Ìyà odu é um vodu.

- 1894, Ellis indica que Oduduwa é a grande deusa negra.

- 1884, Baudin escreve que Oduduwa é a esposa de Obàtálá.

- 1885, escreve que ìyà mi se compara a virgem santa.

- 1954, Lydia Cabbrera retrata que Oduduwa é esposa de Obàtálá e que os dois moram em uma cabaça com 16 búzios.

- 1975, Joana Elbein dos Santos (Os nagôs e a morte, pág. 121), o poder feminino é representado por Odua.

Esses são pequenos exemplos, mas poderíamos coletar uma vasta quantidade de equívocos extremamente prejudiciais para os jovens estudantes da religião de orixá.

Muitos autores citam o padre Noel Baudin como fonte, imaginem que absurdo, na realidade eles ficam lendo alguns livros antigos e escrevendo seus livros, reproduzindo informações que jamais deveriam ser divulgadas por falta de credito.

Seus livros se baseiam em outros autores, que se baseiam em outros livros de outros autores dando origem a bola de neve da falta de informação.

Observando algumas dessas situações percebemos que a falta de informações em muitos casos é substituída pelo preconceito e racismo, não iniciados e membros de outras religiões terminam relatando aquilo que eles imaginam.

Esses são os casos mais conhecidos embora todos os dias nas redes sociais sejamos bombardeados por absurdos semelhantes como os acima citados.

Vou colocar aqui só alguns exemplos:

- Logun ede é seis meses feminino e seis meses masculino.

- Pomba gira e Iya mi são da mesma falange.

- Nos ebos para Ogun tem que levar um alguidar pequeno com milho para o cavalo dele.

- Orunmila fala sobre os mesmos princípios que a umbanda.
- Mulher não pode ser iniciada em Egungun.

- Tranca rua é o exu do Osun.

-Os orixás é igual a super heróis, Ewa é igual a mulher maravilha.
Eu poderia ficar escrevendo horas citando os absurdos que vejo na internet, mas isso não vai contribuir muito, o importante é alertar as pessoas sobre a nossa religião e a necessidade de estudar e aprender a cultuar orixá.

É verdade que muitos desses escritores escreveram bons trabalhos, o problema é como aquele que não conhece vai identificar o que é bom ou o que é ruim.

Os iniciados não devem comprar apostilas, porque se um dia alguém perguntar com quem você aprendeu, a pergunta certamente vai ficar sem resposta.



quarta-feira, 13 de maio de 2015

Baba Egúngún

         


É com grande alegria que escrevo esse texto sobre os nossos ancestrais, mesmo sabendo que vai haver um grupo que não vai ficar satisfeito com esses esclarecimentos, não é a primeira vez que vou escrever sobre Egúngún, na última vez cheguei até ser ameaçado de morte.

Estou tranquilo e a vontade para escrever, não vejo o porquê que certa informação não possa ser dada ao grande número de pessoas que cultuam òrìsàs em nosso país.

Quando falamos de Egúngún temos que definir primeiramente o que é Baba Egúngún Ará Òrun e Baba Egúngún Ará Àiyé, o objetivo quando descrevo esse diferencial é deixar bem claro que Baba Egúngún Ará Òrun é exatamente igual a qualquer òrìsà, ele tem em sua origem de culto praticamente as mesmas razões que nos leva a cultuar Òsùn, Obàtálá e outros òrìsàs.

- Baba Egúngún Ará Òrun, divindade que representa a ligação entre os homens e os seus antepassados com um culto fundamentado na necessidade de harmonizar os descendentes com os espíritos dos antepassados, divindade que não incorpora em nenhuma pessoa, mas que é invocada em rituais que são feitos para Baba Egúngún Ará Àiyé.

- Baba Egúngún Ará Àiyé, o nome explica a diferenciação, Ará Àiyé corpo na terra, é o nome dado a pessoas ilustres que através dos seus atos passaram a ser cultuados como antepassados ilustres que podem se manifestar em seus descendentes. Para que as pessoas entendam com mais facilidade são esses os Egúngúns que ganham roupa.

É importante que não se confunda espirito de pessoa recém falecida ou que não tenham sido iniciadas no culto de Baba Egúngún com espíritos de sacerdotes do culto de ifá e Egúngún que adquiriram com o passar do tempo condições de serem invocados como Baba, existem várias exigências para que um antepassado seja cultuado como Baba Egúngún no Ilé-Igbàlè, uma delas é ter tido uma vida digna.

Não devemos confundir Igbàlè e Baba Egúngún com Ilé-ibo-akú e Èsà, o termo Ilé-ibo-akú é comumente usado em nosso país para definir uma casa coberta de folhas que é usada para rituais fúnebres nos ilé òrìsàs e o termo Èsà é usado para definir os antepassados iniciados em òrìsàs.

No culto de Baba Egúngún o principal sacerdote é chamado de Alapini, abaixo do Alapini vem o chefe de todos os Òjès o conhecido Òjè Àgbà ou Alagba, imediatamente abaixo vem em sequência os Òjès e os omo isans, seguidos dos que ainda não passaram pelos rituais chamados de Ógberis pessoas que foram indicadas, mas que ainda não passaram pelas iniciações. Não devemos esquecer os Oyè femininos no culto a Egúngún Ìyá Àgan (a única mulher que invoca Egúngún), Iyagbà (líder das mulheres no Ilé Egúngún, semelhante a Iyalode no culto aos òrìsàs), Iyálasè (encarregada das comidas para Egúngún), Ìyá Korin (mulheres que cantam para Egúngún).

Agora o importante é não confundir Egúngún Ará Òrun, Egúngún Ará Àiyé e Èsàs com Baba Orò, divindade ligada aos rituais fúnebres que tem seu sacerdote especialmente escolhido pelo seu odu de nascimento, conhecido como Aworo (aquele que tem acesso aos segredos da divindade Orò.
Esses pequenos esclarecimentos somados ao texto postado em nosso blog como título “a verdade sobre Egúngún” tem como finalidade instruir as pessoas menos avisadas para que não sejam vítimas do seu próprio desconhecimento.

Consciente que não revelei segredos sigo em tranquilidade dizendo:

Biri-biri bò won lójú ògbèri nko mo màriwò (A escuridão cobre os olhos do não iniciado ele não pode conhecer os mistérios do màriwò).

Awo Òjè Tunde Alagba, Aworo
Bàbàláwo Ifágbaíyin Agboolà.







terça-feira, 12 de maio de 2015

Como assentar odu.


ifagbaiyin agboola

Em nosso país sempre tem novidades, a criatividade de nosso povo é conhecida no mundo inteiro, somos um povo alegre e inteligente então as vezes o povo exagera.

No meio religioso é bastante comum ver a criatividade brasileira, quando vamos em algumas festas dos orixás percebemos que todos os dias aparecem coisas novas.

A mistura de influências culturais que alguns sacerdotes fazem, termina gerando uma grande confusão, o assentamento de odu é mais uma dessas confusões, fica claro que não existe assentamento de odu e se isso está acontecendo só pode ser falta de informação.

Odu é uma energia que foi usada por Olódùmarè na criação do universo, cada orixá e cada ser vivo se origina de um odu, dentro de um mesmo odu pode haver o nascimento de vários orixás, sendo assim a energia de odu não é assentado e sim invocada para a extração de parte de sua essência. No assentamento de um orixá parte da essência exigida no momento da criação do mesmo vem do odu, uma outra parte é contida no axé pessoal do sacerdote que está invocando o odu.

Não existe assentamento de nenhum odu, os ditos assentamentos de Òbàrà Méjì são ebós com a intenção de agradar orixás que transitam na energia do odu.

Ter a pretensão de fixar em um assentamento uma energia tão ampla que pode gerar vários orixás é no mínimo falta de informação.

No assentamento de Iya odu não é fixada a energia de um odu, no assentamento de Iya odu é invocada a energia da mãe de todos os odus. Isso é muito mais complexo do que parece, vamos considerar que se Deus usou os odus para criar o universo Iya odu é elemento que antecede a criação e os orixás são elementos pós criação, caracterizando claramente a descendência.

Fica bem claro que o odu na terra é abstrato, ele compõe aquilo que não vemos, mas que sabemos que existe em termos energéticos, não tem como palpar odu, não tem como visualizar odu, só podemos sentir a energia de parte de um odu quando utilizada em um assentamento ou ebó.

É importante não confundir odu com Iya odu.

Iya odu é o assentamento que retrata tudo aquilo que é o mais próximo, imaginável por nós do que seja Olódùmarè, não existe outro assentamento que tenha essa representação, por ser um orixá de primeiríssima geração.

O comportamento humano é influenciado por energias vindas dos odus, dos orixás e dos ajoguns, mas a variável da influência da energia dos odus é o que é mais sentido no dia a dia.

A influência do odu conhecido como transitório é variável na intensidade e na origem ao contrário do odu de nascimento que se mantém o mesmo, porém com ação e reação em contato com a energia de outros odus.


Para concluir só existe uma forma de conhecer o odu de nascimento que é através da cerimônia do itefa, e não existe nenhuma forma de assentar qualquer odu.


Tudo sobre ifá.

Babalawo Ifagbaiyin Agboola.( Opa Osun na Nigéria).

Orixá Opa Osun:

Opa Osun é conduzido pelo Oluwo do início ao fim do itefa, é comum ver fotos de iniciações de ifá na internet nelas o iniciado aparece com os animais pendurados ao corpo e com uma amostra de tudo que ele vai oferecer a ifá dentro de uma cabaça grande sobre a sua cabeça. Nessas fotos o mais importante quase sempre passa despercebido. Opa Osun é uma haste de ferro simples, mas com um grande significado, a haste medindo aproximadamente um metro e vinte, pode conter sobre ela um pequeno disco de ferro e algumas alusões que descrevem a ligação entre o céu e a terra, apontando simultaneamente para cima e para baixo em uma espécie de cone, porém o importante é a haste.

A haste de ferro é uma indicação clara da ligação desse orixá com Ogun, o orixá Ogun é o mais velho dos filhos de Oduduwa e representa um dos mais antigos descendentes, Oduduwa é a representação máxima na cultura Yoruba de nossos antepassados, sendo assim a ligação de Ogun e Opa Osun é definida claramente como a ligação entre antepassados e descendentes.

Na verdade Opa Osun julga e sentencia o sacerdote que é desonesto, o Opa representa inúmeras gerações de antepassados do Babalawo, sendo assim, uma ação desonesta ou incorreta prejudica o nome de todos os antepassados. Essa talvez seja a razão porque muitos sacerdotes de ifá não se interessa em cultuar esse orixá, o medo da represália por ações indevidas afasta os desonestos desse culto, porém sem esse Orixá não existe iniciação.

Opa Osun está presente na iniciação para acompanhar o iniciado em sua apresentação aos antepassados no primeiro ato do itefa, ele está presente em várias cerimonias dentro da iniciação, é diante de Opa Osun que o iniciado tem o primeiro contato com os seus ikins, e é também durante a cerimônia do terceiro e sétimo dia que esse orixá testemunha os rituais. Assim como é diante dele que é feita a retirada do ekodide, finalizando o itefa e reconhecendo o iniciado.

A haste de ferro que serve como base para o sabão, que purifica o corpo na iniciação é a mesma que vai receber o ekodide do iniciado e será a mesma que vai abrigar o símbolo do reconhecimento da integração daquele elemento, a família, sendo assim Opa Osun é um orixá familiar.

Se Opa Osun representa as várias gerações de Babalawos antepassados do iniciado é evidente que esse orixá caso aja uma mudança de família deverá sofrer uma alteração em sua montagem, buscando assim a ligação com os antepassados da nova família.

Essa questão de mudança de família em território Yoruba não existe, na terra mãe você nasce vive e morre com um mesmo sobrenome e trocar de nome é um gesto que envergonha e prejudica o infrator. Já no Brasil historicamente essa prática é muito comum, não vou me deter nesse texto para explicar os prejuízos de tal atitude, todos sabem que a traição é o pior dos atos no culto a orixá.

Salvo raras exceções de iniciados que nasceram em odus que indica a necessidade de ter Opa Osun, somente aqueles conhecidos com autorização para fazer iniciações tem esse assentamento, esclarecendo que não existe Oluwo sem Opa Osun e Iya odu.

 Essa é mais uma questão que vai gerar alguns comentários, mas a verdade é uma só, quem não tem esses dois orixás não pode iniciar em ifá, e isso não é uma questão familiar ou regional, isso é a verdade do ifá tradicional em território Yoruba.