domingo, 5 de dezembro de 2010


Egúngún e Ifá.



Autor:  Bàbàláwo Ifagbaiyin Agboola

Na cultura yoruba a morte é encarada com naturalidade, o povo deste território tem uma forma bem clara para definir esse momento, a morte não representa o fim, ela representa sim o começo de um novo ciclo.

 A morte não é o fim da vida, existe outro mundo paralelo ao nosso, conhecido como òrún (céu), que é dividido em nove partes.

Este local para o povo yoruba é a morada dos Òrìșàs e dos antepassados, sendo assim o contato entre o òrún (céu) e o aiye (terra) acontece de forma constante.

O fato de poder ir e vir é um privilégio, somente espíritos com um caráter exemplar serão escolhidos para serem cultuado como egúngún.

Continuar voltando a terra para ver seus descendentes é um prazer, participar da vida da comunidade ou da família possibilita ao individuo eternizar-se, entrar para historia e ser louvado por seus descendentes.

Tenho assistido algumas discussões sobre esse tema com surpresa, a desinformação sobre esse assunto é muito grande, existe uma aura de mistério confundida com mentiras e interesses que distancia muito os iniciados da verdade, imagina-se então o que acontece com o público leigo que ignora completamente a realidade.

Passarei agora a uma analise dos fatos sempre considerando a visão do povo yoruba de forma tradicional, não a visão afro brasileira.

Não existe egúngún do Òrìșà Ògún ou de Osun ou de Obàtálá, esse é um erro bastante comum, existe sim um espírito de um ancestral (egúngún) que um dia foi feito para um determinado Òrìșà, ou não.

Não existe comida de Òrìșà que se serve para um determinado egúngún, existe sim pratos tradicionais de um povo que podem ser servidos ou não de acordo com a preferência do antepassado.

É possível sim que um espírito feminino seja homenageado após a sua morte em um ritual de egúngún.

É permitido sim à permanência de mulheres nos rituais para egúngún, eu não acredito quais seriam os objetivos de tais rituais que não fossem os de manter a família e a estrutura de um povo sem que a presença da mulher deixe de ser fundamental.

Todas as casas que cultuam Òrìșà devem ter sim um assentamento de egúngún, todos tem antepassados que devem ser louvados.

Sim é possível o culto de egúngún e Òrìșà assim como de ìyá mi no mesmo local, um ritual se completa com o outro, até por que estamos prestando homenagens antepassados masculinos e femininos.

Espíritos evoluídos e de grande compreensão, espíritos desinformados não merecem tais rituais e sim outros.

Uma pessoa com cargo de Babalorisa sim pode ser um iniciado em Egúngún outros cultos como o de Iya mi e de Baba Oro, sem nenhum problema, como disse anteriormente os rituais se completam, todos temos antepassados femininos e masculinos.

Uma pessoa deve sim cultuar egúngún de sua família, assim como o egúngún da família de òrìsà a qual ela foi iniciada; cultuar um egúngún de alguém que não tem nada em comum com você é no mínimo desperdício para não dizer total desinformação.

Assentamento de egúngún sim pode ser feito em casa alugada, quando a pessoa vai mudar para outro lugar tem um ritual que deve ser feito com uma parte da terra do local e o assentamento jamais deve ser desfeito e sim transferido.

Toda pessoa um dia pode ser um egúngún cultuado sim, o que vai diferenciar quem merece ou não ser cultuado é a finalidade do assentamento, para ser mais claro se eu quero um amigo que vai me orientar, não assentarei um espírito de alguém que não tenho informações.

Existe sim um odu que autoriza a abertura de um buraco no chão para culto dos antepassados, não mencionaremos aqui por razões óbvias, mas todo ritual em nossa religião consta dos versos dos odus de Ifá.

Sim um egúngún assim como um òrìsà não necessita de um número exato de animais para ser assentado, acontece que o homem esta tão pretensioso que administra os rituais sem mesmo questionar a divindade e suas preferências.

Quanto à questão da roupa volto a dizer de forma bem clara, quem quiser acreditar em historia de faz de conta que assim o faça, somente quem conhece os rituais de preparação de uma roupa de egúngún sabe a importância da mesma na preservação dos membros ali envolvidos.

Quanto ao fato de usar egúngún para fazer maldade, eu sei que faz parte da historia humana lançar mão de tudo que é possível para atingir seus intentos, mas é bem verdade que se amamos um egúngún e o respeitamos jamais pediremos para interferir em nosso beneficio causando qualquer tipo de dificuldade ao outro, é claro que isso faz parte da formação da pessoa e não de uma religião específica, algumas pessoas não merecem ter o acesso a tais informações, mas isso é outra história.