O monologo da fé.
Muitos dos meus contatos na internet relatam que a suas vidas estão muito prejudicadas e que existe uma dificuldade em dar continuidade a os seus projetos, para nós que cultuamos orisá e acreditamos que a força impulsionadora é o axé isso indica que alguma coisa está errada.
A fé existe enquanto se mantem a esperança ou quando o retorno é confortante, aquele que reza, fala com o divino, sabe que a natureza não é muda, e o seu interior sente a energia como resposta. Sendo assim o retorno afirma a relação de fé e sedimenta a relação de confiança.
Mas é impossível que a relação homem divindade se apoie somente na fé, em nossa religião os ritos possibilitam o acesso e purificam a relação condicionando a comunicação.
Vejamos então se em todas as religiões quem orienta os ritos é um sacerdote e para isso ele necessita uma formação, por que então em nossa religião seria diferente e qualquer pessoa poderia ser detentora da força realizadora (o axé, asé).
A energia do axé tem sim poder de realização, mas ela não é continua, o desequilíbrio emocional e ético afeta a sequencia de realizações além de outros fatores como a falta de caráter que neutraliza de forma definitiva a capacidade de invocação de forças benevolentes.
A comunicação entre o homem e o orisá pode ser prejudicada pelo comportamento do homem ou pelo desconhecimento dele, e alguns assentamentos podem até repelir a presença da divindade como resultado do despreparo daqueles que o sacralizaram.
O culto a Orisa mais especificamente a religião tradicional em especial os rituais relativos à Orunmila exigem do sacerdote uma postura impar, o Babalawo é permanentemente observado por Opa Osun que representa a sua ligação com o elo familiar.
Um ato falho no presente prejudica a imagem do trabalho de muitos no passado, uma ação impensada pode implicar na revolta dos seus melhores amigos espirituais a consequência é a equivocada relação onde o sacerdote pensa que está rezando, mas na verdade o que está acontecendo é um monologo.
O monologo da fé é muito comum, as pessoas conversam com o sagrado imaginado por elas, elas criam uma divindade que aceita tudo que elas fazem e respondem sempre que elas chamam, sabemos que isso é impossível nós exigimos e somos exigidos nessa relação, o nosso comportamento é um parâmetro forte que norteia a comunicação espiritual.
Os ofos, aduras e orikis não servem para nada se a postura do sacerdote está comprometida, é comum ouvir as pessoas dizerem que parece que não estão sendo ouvidos, isso é um fato elas estão falando sozinhas.
Os seres humanos necessitam de higiene em seus corpos e em suas mentes, somente tomar banho e colocar uma roupa nova não identificam você como limpo, a troca de roupa e o perfume não escondem o seu verdadeiro pensar.
A religião tradicional yoruba é exigente, nos versos de Ifá percebemos normas de comportamento bastante rígidas e Orunmila estabelece com clareza as normas de convivência entre os homens e também com o sagrado.
O estudo continuo dos versos de ifá capacita o sacerdote, mas a elevação é obtida somente quando esse conhecimento é colocado em pratica, àquele que detém o conhecimento e não o pratica cometi um duplo erro.
A formação e os estudos beneficiam os ritos, mas não garantem o êxito, o asé é uma combinação precisa que exige uma combinação entre o saber e o poder