A razão do culto a Egungun.
Homenagem ao Babalorsá José Carlos (Wure baba). |
É muito fácil descrever as razões por que cultuar Egungun, o culto aos antepassados é bastante conhecido e divulgado em praticamente todos os seguimentos religiosos.
Sempre que você citar feitos de um antepassado você esta mantendo viva a memoria de pessoas que você admira, a divulgação mantem vivo o personagem citado, e estimula aqueles que concordam a perpetuação dos fatos. O divulgar não deixa de ser uma forma de culto, você cita quem admira e divulga quem o seu respeito merece.
A memoria da humanidade é o maior patrimônio e o mais enriquecedor legado do ser humano, imagine todas as criações de nossos antepassados e o seus usos no dia a dia, seria muito difícil viver sem esse legado.
No grupo familiar e no seguimento religioso isso é naturalmente enfatizado com cantigas e historias que homenageiam os orisas, as cantigas os gestos nas coreografias das danças nada mais são que um culto a antepassados, as pessoas não consegue entender que tudo isso é culto a Egungun.
O patriarca do povo Yoruba Odudua foi o primeiro a ter culto como antepassado em nossa cultura religiosa, esse inicio foi marcado pela necessidade da divulgação dos feitos desse grande guerreiro, um monarca inteligente e corajoso que expandiu o seu império.
Depois de Odudua outros personagens deram seguimento aos feitos dos lideres yorubas imortalizando assim esses grandes lideres, esses fatos enchem de orgulho seus descendentes.
O culto a Egungun e aos antepassados divinizados se é que podemos dizer assim sobreviveu em nosso país graças ao esforço daqueles que foram trazidos para cá como escravos, talvez por esse fato o reconhecimento a essa cultura não tenha sido aquele esperado.
A verdade é translucida se não fosse os feitos dos nossos antepassados, certamente não existiriam descendentes para contar a historia.
Em um isan a representação das nove gerações unidas além de fortalecer o elo de ligação com os antepassados à energia contida aguça a memoria do descendente assumindo o compromisso da perpetuação.
É evidente que uma pessoa de má índole não merece o respeito dos seus descendentes após a sua morte, sendo assim o culto a Egungun é marcado por uma severa seleção de caráter e postura impar daquele a ser cultuado.
O fato de envelhecer não implica em receber respeito, os canalhas também envelhece, é verdade que a idade avançada trás a experiência como testemunha, mas não habilitam o individuo a receber considerações diferenciadas, sendo assim não são somente pessoas que morrem com muita idade que merecem culto após a sua morte.
O respeito deve ser mantido pelos espíritos dos antepassados, mas também pelos espíritos dos descendentes que cedo nos deixaram o culto a Egungun é cheio de segredos e dentro dele existem inúmeras subdivisões.
Quando cultuamos Egungun a energia é a de um culto a uma divindade que tem como razão primeira manter viva a nossa memória estabelecendo ligação entre o passado e o presente, harmonizando os conflitos pessoais e familiares entre gerações, criando assim um resgate por que no culto a orisá nada é imutável e a ultima palavra pertence à Olodumare.
Quando vejo lagrimas de saudades nos olhos dos descendentes que se entristecem pela ausência de seus antepassados examino cuidadosamente o teor dessa emoção e traduzo isso como a agua que alimenta a terra e faz florescer a semente da eternidade. Todo aquele que é amado se torna imortal no coração de quem o ama.
O grande sonho e talvez a mais difícil missão do ser humano é ser lembrado após a sua morte por suas ações. Inspirar os descendentes com seus atos é viver eternamente, é ter a certeza que você estava no caminho certo. A alegria de saber que tudo que você fez é exemplo para aqueles seguem a sua orientação, trás para o espirito do antepassado a certeza que ele esta presente entre os seus descendentes.
Um grande sacerdote nunca vai morrer.
Babalawo Ifagbaiyin Agboola.