sexta-feira, 11 de março de 2011


O Bàbàláwo brasileiro,sacerdote de Ifá.

Autor: Babalawo Ifagbaiyin 

Outro dia me foi perguntado se pode haver um Babalawo brasileiro, e isso me fez pensar, que trauma de inferioridade nosso povo vive ao longo da história, que só o que é estrangeiro é que é considerado bom.

Aprendemos primeiro que o que os Portugueses faziam era melhor, depois aprendemos que os franceses eram melhores e por último no governo militar nos foi ensinado que os americanos que eram os bons em tudo.
Que fato estranho é esse que nosso povo se comporta com tal dificuldade de aceitar os seus compatriotas como pessoas comuns, porque sempre somos vistos, por nossos irmãos como sendo inferiores.

Vivemos em um país rico com pessoas inteligentíssimas que ensinam em faculdades no mundo inteiro os mais diversos temas, porque não poderia um brasileiro ser Babalawo?

Bem essa questão da ótica do comportamento humano eu não sou capacitado para examinar deixo isso para os especialistas em tratamento das pessoas mentalmente perturbadas, ou com transtornos de comportamento.

Com respeito ao aspecto religioso examinarei aqui algumas questões de grande importância: se um brasileiro passa por todos os rituais que um yorubano o que o tornaria menos capaz diante dos olhos de Orunmila?Nada.


O ritual que demora inúmeros dias conhecido como Itefa qualifica a pessoa para ser um sacerdote e dar início a uma caminhada que, dependendo da pessoa, pode ou não levar mais ou menos tempo,antigamente se falava de quinze anos,hoje isso tudo é coisa do passado um sacerdote usa elementos como a informática, áudios,e vídeos para melhorar seus conhecimentos,isso comparado com a forma de estudar de cem anos atrás reduz bastante o tempo de aprendizado.

Se a pessoa for iniciada seguindo os princípios da tradição yoruba existem várias formas de conduzir os rituais; o primeiro odu extraído para o iniciado antecede a entrada dele ao igbodu,e pode ou não orientar a necessidade de alguns diferenciais como ebós distintos ao então possível sacerdote.


Se o mesmo foi submetido no igbodu ao ritual do itefa presumimos que tais rituais foram feitos seguindo a orientação de Ifa,e a partir do momento que é extraído o odu do então agora iniciado segue-se os rituais até a conclusão da feitura,com a extração do terceiro odu que orienta sobre o futuro do sacerdote.

Quando um médico sai da faculdade formado nós o chamamos de enfermeiro? Não, nós o chamamos de médico; quando um aluno se forma na faculdade de engenharia nós o chamamos de mestre de obras ou de engenheiro? O sacerdote que passa por todos os rituais de iniciação deve ser reconhecido pelo titulo que recebeu. Se ele vai ou não corresponder é uma outra coisa que pode acontecer em qualquer profissão escolhida.

O dedo médio do sacerdote brasileiro é diferente do dedo médio do sacerdote yoruba?Esse dedo que passa por tantos rituais para que possa imprimir os odus não é reconhecido porque é branco, ou a mente dos nossos irmãos que permanece na escuridão.


O que me deixa triste é saber que pessoas pensem assim,o fato do sacerdote passar por rituais não o habilita a realizar os mesmos, mas o torna reconhecido como tal,os anos podem transformar esse Babalawo em um bom sacerdote,mas um bom sacerdote com os anos não se transforma em um Babalawo.Sem a feitura não existe o titulo.

Até mesmo quando vamos construir uma casa o alicerce deve ser construído primeiro; porque devemos ser diferentes em nossas carreiras? É claro que todo sacerdote deve ser reconhecido por seu conhecimento, mas os rituais o credenciam ao titulo.
Dizer que todo brasileiro não pode ser um Babalawo,é no mínimo imprudência porque ifa ensina que generalizar não é inteligente.

Devemos estar abertos ao diálogo, as mudanças e as transformações estão acontecendo na natureza a todo momento, porque não aconteceria na nossa religião? Uma das missões que Ifa deu aos Babalawos é que ele ande pelo mundo e inicie novos sacerdotes. Por que deveria iniciar novos sacerdotes, para não serem reconhecidos?
Que uma pessoa que fala yoruba fluentemente tem mais chance de aprender Ifa do que uma que não fala a língua isso eu não discuto, que uma pessoa morando em território yoruba tem mais acesso a informação que uma aqui no Brasil isso eu não discuto,mas não estamos discutindo geografia,ou lingüística,estamos falando os desígnios de Ifa,e eu pergunto quem entre nós sabe mais que o Orisa testemunha da criação?

Bí o se rere yó yọ sí ọ lára; bí o kò se rere yó yọ sílẹ̀.

Se suas ações são boas que os benefícios voltem a você; se suas ações não são boas logo aparecerá claramente.